Uma opinião
Ainda sobre este post, cito de um texto que encontrei aqui:
Sobre o defensor da legalização do aborto recai o fardo de explicar em que altura o feto passa a ter o direito à vida, dado que temos de aceitar que tanto um ser humano adulto como uma crianca recém-nascida têm o direito à vida. Há varios critérios propostos na bibliografia, sendo que os seguintes são os mais comuns: concepção; implantação; forma humana; aceleração; actividade cerebral inicial; actividade organizada do córtex cerebral; viabilidade. Sou a favor do critério da actividade organizada do córtex cerebral. Vou rapidamente passar em revista todas as posições e explicar porque é que esta posição parece a correcta. Há ainda outra posição: o gradualismo. De acordo com o gradualismo, o feto vai progressivamente adquirindo direitos ao longo do tempo. Tanto quanto pude perceber, o gradualismo não recebe grande atenção na bibliografia de bioética.
O resto do texto merece ser lido. Começa por desmontar argumentos dos dois lados, antes de oferecer a sua opinião, que fundamenta com cuidado. Acaba por defender o "sim". Pessoalmente, não concordo com ele em alguns pontos, como por exemplo, quando afirma:
Há ainda uma última posição que, tanto quanto me pude aperceber, não é muito discutida na bibliografia de bioética, mas que aparece, de vez em quando, em debates públicos: o gradualismo. O gradualismo é a posição de que o direito à vida é uma questão de grau, e que o feto vai progressivamente adquirindo maior direito à vida à medida que a gravidez avança no tempo. Há um sentido trivial em que concordo com o gradualismo: a partir da vigésima quinta semana, o feto vai adquirindo progressivamente maior direito à vida, e, em termos morais, matar um feto com 30 semanas não é, certamente, a mesma coisa que matar um feto com 40 semanas. No entanto, não é possível usar o gradualismo para argumentar a favor da posição de que o zigoto tem o direito à vida. Ao usar esta linha de argumentação, uma pessoa estaria a cair, subtilmente, no erro de usar o chamado "argumento dos dois minutos", que, como já vimos, é falacioso.
O tal argumento dos dois minutos consiste no seguinte:
Primeiro, nota-se que a criança, quando nasce, tem o direito à vida. Depois, acrescenta-se que não há grande diferença entre a criança dois minutos antes de nascer e agora, que acabou de nascer. Isso significa, certamente, que tinha o mesmo direito à vida dois minutos antes de nascer. E, se a coisa é assim, então certamente também teria o direito à vida quatro minutos antes de nascer. E por aí fora até ao momento da concepção. [...] Este argumento é falacioso. Para ver que é, basta pensar no seguinte argumento análogo, que é claramente falacioso:
O Jorge não é careca; o Zé tem menos um cabelo na cabeca do que o Jorge; logo, o Zé também não é careca. O Eduardo tem menos um cabelo na cabeça do que o Zé; logo, o Eduardo também não é careca. E, como a diferença de um cabelo não parece ser suficente para delimitar a fronteira entre os carecas e os não carecas, chegamos ao caso do Manuel, que não tem qualquer cabelo na cabeça. Para sermos consistentes, devemos dizer que o Manuel também não é careca, o que é claramente falso.
Contesto que os argumentos sejam análogos. O último baseia-se na finitude do número de cabelos. Ou seja, retirando-se os cabelos um a um, fica-se com nenhum. Porém, no primeiro argumento, o valor do qual estamos a subtrair é o valor da vida de um recém-nascido. E este é infinito (penso que poucos discordarão). Tudo muda. Dois minutos antes de nascer, não havendo grande diferença, a vida da criança não-nascida ainda tem um valor infinito. Quatro minutos antes, também. E assim até ao momento da concepção. Ou seja, o problema da contra-argumentação do texto que cito é que atribui por comparação um valor finito à vida.
Enfim, não sou filósofo... Mas acredito que temos todos a ganhar de uma discussão séria. O texto que cito, independentemente da posição defendida, é um bom contributo.
Nota explicativa: Este texto foi editado ao 11º comentário, tendo-se suprimido a adjectivação (abusiva, porque minha e não sou autorizado para tanto) do autor do texto de filósofo.
Sobre o defensor da legalização do aborto recai o fardo de explicar em que altura o feto passa a ter o direito à vida, dado que temos de aceitar que tanto um ser humano adulto como uma crianca recém-nascida têm o direito à vida. Há varios critérios propostos na bibliografia, sendo que os seguintes são os mais comuns: concepção; implantação; forma humana; aceleração; actividade cerebral inicial; actividade organizada do córtex cerebral; viabilidade. Sou a favor do critério da actividade organizada do córtex cerebral. Vou rapidamente passar em revista todas as posições e explicar porque é que esta posição parece a correcta. Há ainda outra posição: o gradualismo. De acordo com o gradualismo, o feto vai progressivamente adquirindo direitos ao longo do tempo. Tanto quanto pude perceber, o gradualismo não recebe grande atenção na bibliografia de bioética.
O resto do texto merece ser lido. Começa por desmontar argumentos dos dois lados, antes de oferecer a sua opinião, que fundamenta com cuidado. Acaba por defender o "sim". Pessoalmente, não concordo com ele em alguns pontos, como por exemplo, quando afirma:
Há ainda uma última posição que, tanto quanto me pude aperceber, não é muito discutida na bibliografia de bioética, mas que aparece, de vez em quando, em debates públicos: o gradualismo. O gradualismo é a posição de que o direito à vida é uma questão de grau, e que o feto vai progressivamente adquirindo maior direito à vida à medida que a gravidez avança no tempo. Há um sentido trivial em que concordo com o gradualismo: a partir da vigésima quinta semana, o feto vai adquirindo progressivamente maior direito à vida, e, em termos morais, matar um feto com 30 semanas não é, certamente, a mesma coisa que matar um feto com 40 semanas. No entanto, não é possível usar o gradualismo para argumentar a favor da posição de que o zigoto tem o direito à vida. Ao usar esta linha de argumentação, uma pessoa estaria a cair, subtilmente, no erro de usar o chamado "argumento dos dois minutos", que, como já vimos, é falacioso.
O tal argumento dos dois minutos consiste no seguinte:
Primeiro, nota-se que a criança, quando nasce, tem o direito à vida. Depois, acrescenta-se que não há grande diferença entre a criança dois minutos antes de nascer e agora, que acabou de nascer. Isso significa, certamente, que tinha o mesmo direito à vida dois minutos antes de nascer. E, se a coisa é assim, então certamente também teria o direito à vida quatro minutos antes de nascer. E por aí fora até ao momento da concepção. [...] Este argumento é falacioso. Para ver que é, basta pensar no seguinte argumento análogo, que é claramente falacioso:
O Jorge não é careca; o Zé tem menos um cabelo na cabeca do que o Jorge; logo, o Zé também não é careca. O Eduardo tem menos um cabelo na cabeça do que o Zé; logo, o Eduardo também não é careca. E, como a diferença de um cabelo não parece ser suficente para delimitar a fronteira entre os carecas e os não carecas, chegamos ao caso do Manuel, que não tem qualquer cabelo na cabeça. Para sermos consistentes, devemos dizer que o Manuel também não é careca, o que é claramente falso.
Contesto que os argumentos sejam análogos. O último baseia-se na finitude do número de cabelos. Ou seja, retirando-se os cabelos um a um, fica-se com nenhum. Porém, no primeiro argumento, o valor do qual estamos a subtrair é o valor da vida de um recém-nascido. E este é infinito (penso que poucos discordarão). Tudo muda. Dois minutos antes de nascer, não havendo grande diferença, a vida da criança não-nascida ainda tem um valor infinito. Quatro minutos antes, também. E assim até ao momento da concepção. Ou seja, o problema da contra-argumentação do texto que cito é que atribui por comparação um valor finito à vida.
Enfim, não sou filósofo... Mas acredito que temos todos a ganhar de uma discussão séria. O texto que cito, independentemente da posição defendida, é um bom contributo.
Nota explicativa: Este texto foi editado ao 11º comentário, tendo-se suprimido a adjectivação (abusiva, porque minha e não sou autorizado para tanto) do autor do texto de filósofo.
16 Comments:
Os filósofos pelo menos arrumam bem as ideias, e isso faz falta num debate como este. Mas...
"O comatoso é potencialmente um ser consciente num sentido mais forte do que aquele em que o feto é potencialmente um ser consciente. O comatoso é como uma pessoa que sabe francês, embora não esteja a falar francês neste momento, e o feto é como uma pessoa que ainda não aprendeu a falar francês."
Esta é a fronteira entre ter direito à vida ou não? O já sabermos coisas? O já termos vivido, no sentido da experiência sensível? Ou seja, a diferença está entre o feto não ter curriculum ou o comatoso ter?
Vou ler, mas esse detalhe é lixado. Um comatoso caminha para a morte. Um feto, pode estar em situação física idêntica, mas caminha para a vida. Não há reversibilidade nisto.
Um feto caminha para tudo aquilo que esse comatoso já foi. É-lhe retirada a possibilidade de fazer percuso idêntico.
O argumento do estado de desenvolvimento em que está só poderá ter validade para se dizer que não sofre nem se apercebe que vai "desaparecer".
Mas não serve para justificar que quem lhe impede de nascer, tenha feito um acto neutro.
A menos que se insista que o feto apareceu de geração espontânea e não há qualquer responsabilidade pela sua existência.
Estes argumentos "científicos" são lixados. Era interessante, para quem tem tempo, fazer-se um historial dos argumentos científicos nas socieades utopicas. O comunismo e o nazismo são óptimos exemplos.
Todas as tendências iluminadas tenderam para se justificarem na Ciência e na Razão.
O que não é dito é que esse princípio também nunca foi apenas de ordem neutra e científica. Sempre teve uma "filosofia", uma ideologia por trás.
Desculpa lá, ó /me:
Who the fuck is Pedro Madeira?
Um filósofo? porque é licenciado em filosofia?
Mais devagarinho, sim.
Estás desculpada, Zazie. :P
O Pedro Madeira nunca me foi apresentado. Mas sim, é licenciado em filosofia. Se isso o qualifica ou não como filósofo, depende da definição que empregues.
Bem, não tenho tempo nem pachorra para ler o resto do artigo. Ele é fraco. Nem tem argumentos legais.
Explicou mal o caso da violação. Não se trata de outorgar um direito mas de não poder existir responsabilidade num acto que não se fez de livre vontade. A violada não está a par do gajo que dá uma queca livremente e se balda às consequências que daí advenham
A teoria do feto senciente também não colhe porque então ele tinha de colocar a questão da responsabilidade como algo que dependesse da arbitrariedade de quem gera. Se gerou e depois de feito acha que é mesmo para ser feito, tem todos os direitos de protecção à maternidade e até o progenitor é obrigado a ser pai, mesmo que se tenha baldado ou diga que nem queria.
Se gerou e, depois de gerado, decidiu pensar que afinal não vai ser para nascer, então deixava de haver responsabilidade e sentido legal de tudo o que apoia a maternidade.
A maternidade tem direitos positivos. Não a querer é apenas um direito negativo das mulheres, no sentido de ninguém poder ser obrigado a ficar grávida contra sua vontade. Mais nada. Os homens perante isto não estão em situação paritária nem biológica nem legal. Porque o direito do embrião é, acima de tudo, um direito de Vida. De protecção a que a Vida não seja desprezada por quem a gera.
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Claro que um licenciado não é filósofo. Só é filósofo quem produziu pensamento filosófico novo. Obra filosófica original.
Não é categoria minha. É assim para todas os saberes.
E tu já deste bons argumentos que deitam abaixo a teoria do filósofo sem seres filósofo.
Estás a ver como se distinguém os filósofos dos aprendizes. Se fosse filósofo não conseguias essa proeza, assim de modo tão fácil
";O)
Gostaria de ter lido tudo para me pronunciar com fundamento, mas isso será sempre impossível. Logo, estou por cá apenas eu e as dúvidas quanto à vida (à palavra e ao seu significado); ainda assim, avanço um pequeno passo. E passo ao pouco em que acredito. Que sempre encontrei pouco no que conheço e que não me atrevo a desperdiçar nada. De nada. Como a vida, nada me diz tanto e, tanto mais, quanto menos diz do nada de nada. Aquele nada de um ante-embrião, aquele assomo de esperança no conhecimento. Mas de penalisar o conhecimento de quem não pensa assim, disso nada sei. Ainda não cheguei lá.
Zazie, é óbvio que há coisas no texto com as quais discordo, senão não poderia ir votar não. Mas acho que como desmontagem de argumentos de um lado e de outro está bastante interessante. E tem um mérito enorme: é claro e está bem estruturado.
E pronto, não discuto mais a definição de filósofo contigo; antes adopto a tua. ;)
Já agora, vou tirar as palavras "filósofo" do post. O rapaz que escreveu o texto não se auto-intitulou como tal; não tenho o direito eu de o fazer...
Lacrimosa, «Hohelied Der Liebe»
Download aqui: http://s4.quicksharing.com/v/4389668/08_Hohelied_Der_Liebe.mp3.html
Lacrimosa, «Hohelied Der Liebe»
P. S. O mundo não é Deus.
sim. fazes bem /me porque o que importa é o que o homem é, não o que ele diz. Santa paciência.
Parabéns pelo blog. O mais ponderado que já vi acerca desta questão. Apesar do meu ponto de vista ser diferente, agradou-me a maneira como o assunto é apresentado e a causa é defendida. Obrigada por finalmente me ter dado a hipótese de perceber os defensores do "não".
Sinceramente, por mais voltas que dê vou dar sempre a uma resposta à pergunta do referendo: Não! Há casos que me deixam a pensar, de facto, mas isso não faz com que não fique pela particularização, mas olhe para a pessoa integrada na humanidade.
A questão do aborto, além de estar a camuflar outros problemas sérios na sociedade (curiosamente até podem ser a causa para que haja a decisão de abortar), tem provocado uma onda de discussões, muitas vezes de surdos. Não é pelo facto de votar Não que vou deixar de escutar quem votará Sim. Agora, não acho correcto o facto da questão se estar a tornar partidária levando a que não se aborde outras questões sérias para a união da sociedade.
Em vez de se olhar para o aborto, olhe-se para as causas que levam ao aborto. Essas é que tem de ser investigadas e resolvidas. E não é com o aborto, pois é o caminho mais fácil. Acredito que não se tome a decisão de abortar de ânimo leve, mas porque é que se toma essa decisão?
Kant, o homem do formalismo e da Ética normativa, mostra-nos que a pessoa humana é um valor em si mesma, nunca deve ser um meio, mas sim um fim. Aristóteles, com a sua Ética que aponta para um objectivo da realização do ser humano, apresenta pessoa como ser em relação. Esta relação não deve “coisificar” o ser humano, precisamente por ser um valor em si mesmo. Daí que Paul Ricouer (como já tive oportunidade em citar num outro comentário), ao perceber o melhor destas duas tradições Éticas, diz-nos que o ser humano deve “buscar a vida boa, com e pelos outros, em instituições justas”. Identifico-me imenso com esta posição, precisamente por ter em conta a estima que cada um deve ter por si, respeitando os outros, precisamente por estar integrado em sociedade. Quem é o outro? A mulher ou o embrião? Para mim, os dois, logo devo ter uma posição que valorize ambos, precisamente porque nem um ou outro são “coisas”.
Como digo, se não quero “coisificar” o embrião, também não o faço em relação à mulher. Como já tive oportunidade de comentar, a minha defesa pelo Não prende-se com a integridade do ser humano, na sua totalidade. Eu não tenho o direito de condenar ninguém. Agora, enquanto cidadão, sou responsável pela sociedade e isso faz com que deva contribuir para a sua humanização. Não me parece que o aborto seja o caminho para a humanização. Já li tanta coisa, já ouvi tanta coisa, já pensei em imensa coisa. É-me bastante difícil abstrair do passado, presente e futuro. Não é simplesmente um referendo, é o pensamento social. Não sou pessimista, mas ao olhar para a realidade estamos a caminhar para o “facilitismo” do bem-estar. Que acarreta algum individualismo e até mesmo algum relativismo e isso sim, preocupa-me seriamente.
Os defensores do Sim perguntam o que foi feito depois do último referendo. Há uma resposta rápida. Basta procurar as várias instituições e organizações criadas de apoio à mulher grávida e à criança nascida de famílias sem condições. Infelizmente o apoio económico escasseia.
O partido do Governo que faz campanha pelo sim, fá-lo, a meu ver, principalmente por questões económicas. À primeira vista é mais rentável o aborto, assim não tem de ajudar a mulher, ou a família, nem a criança que nascerá. No entanto, parece-me óbvio que é um bocado incoerente esta posição do partido governamental. Isto porque se formos a ver, o contributo para a natalidade numa sociedade a envelhecer não será muito grande, se partirmos de uma lei que fomente o aborto livre.
A propósito dos funerais, na situação do estatuto do embrião, devo dizer que a Igreja realiza as exéquias ao feto com morte intra-uterina, a pedido dos pais.
Comentário anterior apoiado.
Pensando bem, porque é que estão à espera desta despenalização (que implica a liberalização) para fazerem as ditas clínicas,pelo que dizem com todas as condições e mais algumas para que o acto minimize os riscos para a mulher e segundo dizem diminuir os abortos clandestinos?
Se já há uma lei que prevê a prática de aborto e se já se praticam muitos abortos, porque não construiram já essas clínicas, já que é um facto que as condições da prática de aborto têm que ser melhoradas?
Será que é porque já sabem de antemão e a ideia é que com a despenalização os abortos aumentem mesmo.
Isto é bem significativo das intenções de alguns que querem a despenalização, e que são uma grande maioria de quem defende o sim ( o que não implica que haja outras pessoas com esta posição e que têm boas e fuamentadas intenções, mas essas são uma minoria de quem defende o sim) Muitos que defendem o sim não hesitam em incitar pessoas com opiniões pouco estruturadas pra terem um opção precipitada.
a todos os leitores venho dizer que abriu o blog http://afavordavida.blog.com
precisamos do vosso contributo para sondar a população e a informar acerca de assuntos relacionados com a vida. Até ao dia 12 de Fevereiro abordaremos o assunto do aborto, muito polémico na actualidade e depois, outros assunto se seguirão...A todos os leitores, um muito obridago pela a atenção prestada a este comentário.
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