Razöes do Näo

No próximo referendo sobre o aborto votaremos Näo. Aqui se tenta explicar porquê.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Argumentação falaciosa

Na rotunda que contorno todos os dias a caminho do emprego deparo com primeiro outdoor da campanha para o referendo. Dois homens de blusão e óculos escuros conduzem pelo braço uma mulher que tapa a cabeça e os ombros com um casaco. Um enorme Sim e a frase “para acabar com a humilhação” concluem a mensagem. O Bloco de Esquerda assegura deste modo que a eventual vitória do Sim terminará, em definitivo, com ida a tribunal e a vexação das mulheres que optam pelo aborto.
Claro que a mensagem não é verdadeira. A proposta de alteração em referendo continua a prever a criminalização dos que provoquem o aborto após as dez semanas de gestação. Por isso continuarão a ser levadas mulheres a tribunal e homens de óculos escuros tornarão a usar casacos para lhes garantir o anonimato. Os julgamentos serão menos, provavelmente. Mas, com a nova proposta de lei, a cena em causa tem repetição regular garantida.

7 Comments:

Blogger CA said...

Eu iria mais longe: se o objectivo do sim é evitar qualquer perseguição judicial por aborto então o que o sim tem realmente em mente é a liberalização total do aborto em qualquer altura da gravidez. Em geral não sou partidário das teorias do "plano inclinado" (tipo: se despenalizamos isto acabaremos por despenalizar também aquilo) mas neste caso é a própria estrutura da pergunta e são as posições dos defensores do sim que prometem obter muito mais com o sim do que estava literalmente escrito nas propostas de lei do PS. A vitória do sim ficaria associada à ideia da despenalização do aborto em quaisquer circunstâncias e à sua constituição como direito de qualquer mulher grávida, a ser suportado pelo Estado.

2:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mas ainda há quem ouça o que diz o Bloco de Esquerda?!

10:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E sim, parece-me óbvia a intenção dos defensores do «sim». Como eles mesmos dizem, se uma mulher decide fazer um aborto vai fazê-lo de qualquer maneira. O "qualquer maneira" não incluirá a ideia de que, com 9 ou 11 semanas, a determinação será a mesma? Eu, que sou uma pessoa determinada, não tenho por hábito travar diante dos obstáculos, mas sim arranjar sempre uma forma de os ultrapassar. Como eu estou do lado do «não», também deve haver gente determinada do lado do «sim»...

10:03 da manhã  
Blogger O melhor dos blogues said...

Bom Ano Novo são os votos que aqui deixo a todos os meus colaboradores.
Obrigado e bons posts.

4:46 da tarde  
Blogger O melhor dos blogues said...

Hoje escolho este post para "O melhor dos blogues".
Espero que nada tenham a opor.
Bom ano e que vença a mãe e o filho em gestação.

4:48 da tarde  
Blogger A minha verdade said...

Eles haviam era de dizer no cartaz com quanto tempo de gestação tinha abortado a senhora que vai a ser levada...

É que, no meio de tanta estupidez, os defensores do SIM acabam por vir defender uma lei que mete na prisão as mulheres que eles foram defender para as portas dos tribunais...!

Pasme-se!

6:41 da tarde  
Blogger JPN said...

nada tenho contra a forma como aqui, ou em qualquer outro lugar, se ocupa o tempo, mas parece-me que tentar confundir um argumento e uma mensagem publicitária, é tarefa que não se constitui como grande elogio à inteligência crítica nem à necessidade de criação de evidências comuns entre pensamentos opostos. é evidente que os defensores do sim, em relação ao próximo referendo, podem justamente caracterizar a sua luta como um passo para acabar com a humilhação. o que é falacioso é dizer o contrário. seria o mesmo que eu dizer que é uma falácia dos defensores do não dizerem que defendem a vida, quando objectivamente se o seu voto fosse ganhador, cruzes canhoto, ele estaria ligado a um conjunto de perigos de onde resultam a morte de muitas mulheres. é óbvio que os defensores do não, mesmo não defendendo a vida dessas mulheres que morrem vitimas das deficientes condições de realização dos abortos clandestinos, defendem um determinado modelo de vida e têm todo o direito de o dizer. no qual eu não me revejo e por isso espero ocupar boa parte da minha energia a tentar defender aquilo em que acredito. mas eu não conseguirei que nenhum defensor do não queira discutir comigo esta questão se eu não fizer esta simples operação de reconhecer a mundividência onde o seu raciocínio opera. a menos que estejamos a falar apenas para dentro. e aí voltamos à questão inicial, e tem V. Exas o excelso direito de ocupar o vosso tempo como o entendem: até, com exercícios de estilo onde verberam a publicidade e a propaganda por não serem argumento e desocupam um espaço de apresentação de argumentos com mensagens de natureza propagandística dirigidas internamente para reforço da tribo. até porque seria sensato prevermos uma coisa: aquilo que a 12 de Fevereiro vai fazer valer a pena este referendo deverá mais ao bom senso das nossas ideias e à justiça da sua aplicação, do que à menor ou maior capacidade para um determinado campo apresentar os seus argumentos.

11:02 da tarde  

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