Razöes do Näo

No próximo referendo sobre o aborto votaremos Näo. Aqui se tenta explicar porquê.

domingo, janeiro 07, 2007

Em caso de vitória do sim

O que se ganha:

- intervenções médicas garantidas, e portanto menos perigoso para a mulher que aborta;

- o permitir-se às mulheres e às famílias terem um maior controlo sobre quando querem ter filhos;


O que se perde:

- o reconhecimento, por parte da sociedade, de qualquer valor ao nascituro com menos de x semanas;

- a prioridade de dar condições a mulheres e famílias que queiram ter o filho e não possam (nestes casos, em vez de se resolver o problema, empurram-se algumas pessoas para uma "solução" não desejada);

- maior uso do aborto enquanto meio de evitar a gravidez - banalização do aborto;

(querem-me ajudar, por favor, a reunir os pós e contras, em jeito de resumo?)

28 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Perde-se uma vida... humana ou outra!

Perde-se a paz na consciencia... fala alguém com experiencia.

12:23 da tarde  
Blogger /me said...

Obrigado pela ajuda!

Parto do pressuposto de que abortos sempre haverá, quer no caso do sim ganhar, quer no caso do sim perder. E parto também do pressuposto de que um aborto é algo mau em si, e que é de todo o interesse evitar. As razões que apontas (se posso tratar-te por tu) considero que já estão incluidas nos pressupostos, e devem ser pesadas quando se afirma que se perde ao ter-se uma maior banalização do aborto.

1:36 da tarde  
Blogger zazie said...

Não se ganha nada com o "às claras". Não se ganha nada com a "assitência médica garantida"

Essa assistência médica é automaticamente transformada numa profissionalização daqueles que têm por juramento salvar vidas e de um sistema de saúde que deve tratar delas.

Os enfermeiros ou médicos que sentem, em determinados casos, que devem ajudar algumas mulhere podem sempre fazê-lo por compaixão, com risco e abnegação, se a proibição se mantiver.

A única coisa que se poderia ganhar, seria a alteração do que vem escrito na lei e o exagero dela, na condenação até 3 anos de prisão.

Mas disso também ninguém liga muito porque se sabe que não funciona (e não funcionar não tem nada de perigoso- as leis inactivas até estimulam a verdadeira ética das pessoas). O que pode ter de errado é o carácter aleatório: se eu escolhesse votar pelo Não tinha de assumir que também estava a contribuir para a condenação de uma miudita desprotegida que poderia, pela lei, ir parar à prisão.

Este simples caso chega-me para me abster. Mas não chega para mais nada. Porque, o que está em causa, não são julgamentos acerca do aborto e, muito menos, projectos sociais de planificações de nascimentos ou diminuições do aborto. O que está em causa é ser a favor da existência às claras, estatal ou comercial legalizada desta prática, até às 10 semanas.

Mais nada. O que daqui virá não está a voto. Nem deveria ser argumento para se alterar uma lei que, também tem apenas como finalidade, criminalizar quem pratica o aborto: as mulheres e os técnicos. Mais ninguém e mais nada.

A lei existente não visa contribuir para diminuir nada ou tornar mais dignas as vidas das pessoas, ou mil e um pretextos de engenharias sociais que andam para aí.

A lei existente vem apenas de um factor: a persistência da valorização da possibilidade da vida e a condenação de uma prática que atenta (ainda que em termos bastante abstractos) contra essa potencialidade de geração. Não muito mais porque nem existem cerimónias religiosas para fetos ou embriões (de morte espontânea) nem sequer para nascituros. Só no último caso há entrega do corpo. Os restantes vão para o lixo. Não há nem nunca houve luto por morte pré-natal. Nem mesmo morte à nascença.

Não vejo ninguém a lembrar-se deste detalhe. Porque, dá-me ideia que os videos e eco-grafias vieram alterar esta relação com a vida pré-natal. Tenho dúvidas que a estejam a alterar apenas num bom sentido. Mas isso é outra história.

2- De acordo em relação aos pontos negativos. Banalização essencialmente da consciência face a esse acto. Incluindo a prática médica. Alívio de sentido de pecado. Primeiro passo para alteração da ética dos médicos e enfermeiros. Ainda que não sejam obrigados, a verdade é que o exemplo aparece de cima: do Estado.

Se houvesse apenas intenção de diminuir a pena- a tal alteração mais sensata que não foi escolhida, até poderia ser dito que, apesar disso, esses casos não seriam passíveis de serem englobados pelo SNS.

O problema é que nós não votamos a formulação dos referendos. Andamos sempre a reboque de agendas político-partidárias.

3:21 da tarde  
Blogger zazie said...

Só uma nota: mais ainda do que não me agradar este referendo e não ir votar por ter contradições não resolvidas, sou perfeitamente avessa a toda a fancaria machista que para aí anda. Assim como a uma questão que começa a ganhar foros inquietantes: a suposta humanização sentimental do "embrião e do feto; acima do curso natural da vida- que existe ao se dar à luz.

Será muito mais perigoso perder-se este conceito: "dar à luz" deve ser a lei da natureza. E, com base nela a própria ética sempre foi formulada, assim como as infracções sociais tiveram diferente peso.

Ignorar que essa geração da vida existe por via da mulher e que não existe, da mesma forma por via de mais nada, é um caminho perverso. Mata toda a beleza do sentimento maternal e preverte, por via de uma falsa "justiça paritária" aquilo que a Natureza fez diferente.

É bom que se goste da vida, tanto quanto se goste da maternidade. Assim como é bom que sempre que a paternidade não é um direito masculino contra ela.

Se há aborto, há quebra deste desígnio e deverá existir um sentido negativo em relação a ele. Mas não é preciso mais nada. Principalmente é absolutamente necessário que não seja pretexto para as tal leis que obrigariam as mulheres a ter os filhos no caso do pai o desejar- numa utopia de coelheiras-máquina: apenas sujeitas ao sentido de "posse" e direito masculino.

3:31 da tarde  
Blogger zazie said...

errata: "que a paternidade pré-natal não seja entendida como um direito, etc,"

3:33 da tarde  
Blogger zazie said...

outra errata:

Não existem cerimónias religiosas para nado-mortos (em vez de nascituros). Não existe noção de luto- seja religosa ou laica- não existe sequer comunicação do facto. Ninguém se torna pai ou mãe de um corpo que nasce morto.

Creio que esta milenária tradição tem muito mais sentido que os futurismos que para aí andam. Se um embrião ou feto passasse a ser tido como uma criança, tudo isto tinha de ser invertido. E entraríamos numa loucura inviável. Quer do ponto de vista dos sentimentos- por isso me parece perverso aqueles videos familiares pré-natais. Se morrer durante a gestação não imagino como lidem com a questão- inclusive. Como é totalmente inviável no caso das poucas semanas de vida. As ecografias ampliadas da agit prop não serviriam para a prática do enterro.

Sorry. Escrevi à pressa.

3:48 da tarde  
Blogger zazie said...

Para ficar mais claro. Com este realismo da prática social não quero dizer que o embrião não seja nada ou nem tenha direito a foros morais.
Tem, e a Igreja é quem melhor consegue dar a resposta: está nele o símbolo, por excelência- do milagre da criação. Está nele o sentimento do desejo da vida: da vontade se ser pai e de ser mãe.

Mas, em termos legais, por cá, nem existe a figura jurídica que lhe daria contexto para o caso das práticas de usos e experiências científicas.

3:53 da tarde  
Blogger /me said...

Zazie, gosto de te ver neste blog. ;)

Estou quase plenamente de acordo com tudo o que dizes, excepto com uma coisa: acho que com assistência médica garantida, se tem a ganhar. Se tivesse a certeza que acontecesse o que acontecesse uma mulher ia abortar, certamente que preferiria que o fizesse assistida por um médico.

Para finalizar, por acaso já neste blog tinha sido referido que não se fazem funerais antes da criança nascida, como disseste (http://razoesdonao.blogspot.com/2006/11/menha-opinio.html). Pronto, já viste alguém a lembrar-se desse detalhe. ;)

3:53 da tarde  
Blogger zazie said...

Rapaz: eu não disse que a assistência médica não é um factor positivo- evita mutilações e até mortes.

O que disse é que, quem assim pensa (e existem muitos médicos e enfermeiros ou enfermeiras que o pensam) então devem ser consequentes e não ficarem à espera que seja a lei a fazer por eles aquilo que eles fazem contrafeitos e apenas por misericórdia.

Em casos particulares, com triagem humanista desses casos, e não por lucro ou por "liberdade e por vir na lei".

Espero que assim fique mais claro. Profissionalizar a morte em nome da lei é uma aberração. O mesmo penso em relação à eutanásia. Ainda que, neste caso nem seja propriamente contra ela, mas quero-a sempre olhos nos olhos. De forma individual, fora da lei. Contravontade. Nunca por normalização e conversão a "prática ´medicinal.

4:04 da tarde  
Blogger zazie said...

contra-vontade.

4:05 da tarde  
Blogger zazie said...

Ok. Não sabia. Ia sendo apedrejada pelos tipos do não quando o disse à Assunção Cristas (a que fez parte do governo e foi colaboradora da Cardona)

4:07 da tarde  
Blogger /me said...

I stand corrected. ;)

Até aposto que só não te apedrejaram porque ficaria mal no currículo deles de "pró-vida". ;)

Por acaso a primeira vez que ouvi o argumento até fiquei apatetado, com o que ele me deu de pensar!

4:09 da tarde  
Blogger /me said...

Só um comentário, completamente off-topic: acho que tens muita confiança no indivíduo. Eu tenho esperança no mesmo, mas acho que cada vez mais se deixam os valores para o Estado. É assustador, mas já pouco se espera que cada pessoa seja solidária ou coerente ou tenha bons valores. Em muitos campos, deixa-se a regulação de tudo isto para o Estado. Podes não gostar - eu certamente também não gosto - mas parece-me ser assim.

(a natureza do "contrato social" subentendido de que todos somos, querendo ou não, signatários, é algo sobre o qual não percebo nada, mas gostaria muito de perceber)

4:14 da tarde  
Blogger CA said...

Há muitas pessoas com dificuldade em aceitar uma valorização e defesa graduais do novo ser desde que é zigoto até que chega ao fim da gestação. Contudo, é assim que a nossa sociedade funciona e tentar uma valorização do embrião ou do feto como pessoa humana nascida pode levar à loucura, como diz a Zazie.

5:10 da tarde  
Blogger zazie said...

tens muita confiança no indivíduo

Nunca tinha pensado nisso. Não sei se tenho. Sei que já me senti envergonhada por pensar mal do género humano- tais foram as provas em contrário.

E sei que não é o inverso que deve servir de lema. Não é por acaso que todos gostamos de romances, filmes ou exemplos reais onde o heroísmo serve de contraponto à “vidinha”.

O que não acredito é que esta exemplaridade viva à custa de delegações na lei e muito menos que se incentive em tribalismos de voto. De qualquer forma, só acredito na ética e na coragem individual.

6:52 da tarde  
Blogger zazie said...

Mas, se eu ainda acredito na palavra... vê lá tu... havia mesmo de andar para aí em batalhas pela lei positiva (ou a vender livros e palestras para o currículo- que também os há a e vaidade é uma coisa danada).
E farto-me de rir sempre que vejo gente histérica, muito preocupada com a lei escrita a ser esquecida, quando razões mais altas se levantam.
":O)))

7:00 da tarde  
Blogger BLUESMILE said...

O que se ganha:

- intervenções médicas garantidas, e portanto menos perigoso para a mulher que aborta;

- o permitir-se às mulheres e às famílias terem um maior controlo sobre quando querem ter filhos;

- acesso ao planeamento familiar eficaz e menor recidiva de aborto;

- Acesso a apoio psiquiátrico, apoio social e económico antes decisão de abortar, o que pode reduzir a incidência de abortos;

- apoio efectivo s a mulheres e famílias que queiram ter o filho e não possam por causas económicas ou outras, através do recurso a Centros de Apoio Familiar, previstos na lei que despenaliza o aborto.

(nestes casos, em vez de, empurrar algumas mulheres para uma "solução" não desejada – a do aborto clandestino, o Estado disponibiliza uma ajuda concreta e possibilita uma escolha consciente );


- fim do aborto clandestino como um negócio rentável

- fim das penas de prisão para mulheres que interrompem a gravidez até até ás 10 semanas

¬ a possibilidade efectiva de dar condições a mulheres e famílias que queiram ter o filho e não possam , atarvés d eum,a intervenção articulada do Etado, em vez da habitual caridadezinha(

O que se perde:

- Lucros das clínicas privadas clandestinas

- A Mortalidade e morbilidade das mulheres devido a aborto clandestino.

8:44 da tarde  
Blogger zazie said...

Todas os pontos avançados pela Blue não necessitavam da liberalização para existir.

No entanto lembrei-me de outro aspecto que relativiza esta tentativa de simplificação em ganhos e perdas.

Não existe "a sociedade", como um todo, a mudar de opinião ou valorização em relação a uma prática, pelo facto da lei passar a legalizá-la.

Como não existem apenas casos dramáticos a recorrem a ele.

O problema da lei é que passa a ser válida para tudo, tendo apenas como critério uma questão temporal. E ninguém vai sair dali com "educação sexual" até porque pode perfeitamente tê-la e preferir recorrer a um serviço gratuito em vez de o fazer em clínica.

Tal como é falso que os médicos possam exigir das pessoas que o pedem que o justifiquem (como disse o Miguel Oliveira na tv) a lei não lhes dá poder para se intrometerem na vida de cada um.

Dá direito a uma mulher usar esse recurso e, o médico é apenas livre de não o fazer por questões de consciência que nem precisa de justificar- fazem parte do próprio código deontológico- que não muda por via desta lei.

A única coisa que acontece, no caso da lei ser aprovada, é não se voltar atrás. E, a partir daí, os combates do SIM e do Não, hão-de continuar como continuam lá fora. Em alguns casos até de forma mais aguerrida ou transformada em nova ideologia. Nos EUA a lei não se mete, mas metem-se as pessoas e serve de pretexto ainda para mais anormalidades.

A vantagem que nós temos, no nosso "atraso" é ainda nos preocuparmos com estas questões antes da lei as retirar da reflexão da cidadania.

Esta questão aparece precisamente por se fazer lá fora. Não aparece por se viver com uma lei que não funciona e com referendo que, paradoxalmente, mostrou que o julgamento moral se mantinha.

O único ponto que é verdadeiramente controverso tem a ver com o facto dessa lei poder atingir, com um peso excessivo, mulheres em situações de grande carência, mães sozinhas ou miúdas desprotegidas. Essa é que é a verdadeira diferença face ao "avanço" estrangeiro.

- É de salientar que andam para aí argumentos pelo Não que são falsos.

Quem diz que a lei criminaliza quem incita ao aborto, ou está a mentir ou está enganado. A lei só criminaliza outrem se for o que executa ou se for contra vontade da mulher.

Podem é existir, por lei, atenuantes para a incriminada- como seja o caso dos tais incitamentos. Mas nunca um homem que engravidou e abandonou vê a alçada da lei sobre ele. Não há sequer processo se a mulher foi de fazê-lo em liberdade.
Os casos de lei que ficam "em águas de bacalhau" dependem da boa vontade dos juízes e da falta de provas.

Como ficam e continuarão a ficar dependentes de quem denuncia.

De resto, é mais um passo para a tutela estatal em "exemplos" de humanismo que, também por esse lado são demasiado contraditórios.
Todos sabemos que o SNS nem para a saúde funciona. Assim como todos sabemos que as intervenções sociais em bairros de risco também são outro mito que sem referendo nem se fala.

Por outro lado, há um aspecto que não vejo como é resolvido, de tal modo ele é contraditório.

O artigo 141 sobrecarrega a pena para os executantes de aborto- com pena de prisão até 8 anos- no caso de haver lucro.
Agora, ficam com a contradição de os liberalizarem até às 10 (seja de graça, seja com lucro) e atribuirem a mesma pena (e expulsão da carreira- no caso de a terem) aos mesmos clínicos e técnicos.

11:49 da tarde  
Blogger zazie said...

saltou... e atribuírem a mesma pena aos clínicos e técnicos que a pratiquem a partir das 10 semanas.

Se for como para tratar de exames médicos por problemas de doença em lista de espera, para se saber este "pequeno detalhe" há tanta complicação que podiam já ir nas 16 e ainda não tinham as provas

";O))

11:55 da tarde  
Blogger AndRocPinho said...

Convenhamos que há diversas razões do lado do "Sim" e do lado do "Não", e que nenhuma das duas soluções é obviamente perfeita.

Más razões ou não-razões para o "Sim", há muitas. Boas razões há 2:
1- Haverá sempre abortos provocados, por isso que se dêm boas condições para a sua realização
2- Existem gravidezes indesejadas que, se forem levadas até ao fim, para além de causarem fortes transtornos sociais, profisisionais ou económicos às mães, podem não permitir que a criança se desenvolva em boas condições sociais e económicas


Para o "Não", também há muitas más razões e não-razões. Mas boas razões, encontrei 32:
1- Porque não se pode restringir a propriedade de um embrião a quem o gera, ele é sobretudo dele próprio, do País e do mundo também
2- Porque não é bonito resolvermos as dificuldades matando algo ou alguém
3- Porque não existe magia maior do que um ser humano em gestação
4- Porque não se pode negar a um ser tão vulnerável a única protecção que o País lhe pode actualmente dar
5- Porque não temos outro remédio na vida, senão assumirmos os contratempos e arcarmos com os nossos erros, sobretudo quando estão em causa altos valores
6- Porque não é razoável que o Estado financie abortos em vez de trabalhar em políticas sociais que melhor apoiem quem mais precise para fazer crescer uma criança
7- Porque não é correcto que o Estado se demita de ajudar um bebé não nascido até à sua idade adulta, quando o faz com um bebé vivo abandonado num local público
8- Porque não é legítimo considerar que a vida pode ser destruída, por qualquer razão, com 10 semanas, e não se já tiver 11, 12 ou 15
9- Porque não é definitivamente a mesma coisa o uso de métodos contraceptivos, para evitar o aparecimento de uma vida, ou acabar com ela
10- Porque não está proibido, na actual lei, que se realize o aborto provocado quando está em causa a saúde da mãe, uma má-formação do embrião ou uma gravidez por violação
11- Porque não é a actual lei do aborto um verdadeiro problema nacional, mas sim o nível de vida de muitos portugueses
12- Porque não existe nenhum estudo que aponte claramente que percentagem de casos têm condições sócio-económicas realmente impróprias e quantas são as intenções de aborto por simples constrangimento sociais ou de progressão profissional
13- Porque não se iria permitir, pela lei proposta, o direito do pai se responsabilizar pela criança após nascer
14- Porque não está sequer consagrada, nessa nova lei, a possibilidade de a criança ser acolhida por uma outra família, uma igreja ou uma instituição social pública ou privada
15- Porque não faz falta a Portugal nenhum tipo de incentivo à redução natalidade, estando o País a envelhecer
16- Porque não está ainda tudo feito em matéria de informação preventiva, planeamento familiar, educação sexual no ensino e cultura de solidariedade na sociedade
17- Porque não há actualmente nenhuma portuguesa que não possa tomar a pílula abortiva, do "dia seguinte"
18- Porque não existe ninguém que possa garantir que a mudança da lei não resulte num brutal aumento dos abortos em Portugal, à semelhança do sucedido noutros países ou pior ainda
19- Porque não ficará o País fica mais moderno e próspero se tiver uma lei do aborto mais liberal e europeia
20- Porque não faltam lugares no mundo em que vigora a liberalização e onde já se discute se a lei deve voltar a proibir o aborto forçado, como em Inglaterra ou na Alemanha, ou até já se referenda o regresso à lei antiga, como em certos estados americanos
21- Porque não faz nenhum sentido repetir o mesmo referendo passados 8 anos, só porque o Não ganhou por poucos votos e o País estar numa “maré de esquerda”
22- Porque não é o julgamento de mulheres a questão central do referendo, bastando o Parlamento pretender descriminalizar as abortadoras, para resolver esse aspecto
23- Porque não existe uma única mulher condenada por aborto, muito poucas foram julgadas e as que foram tinham gravidezes bem mais evoluídas do que 10 semanas
24- Porque não é mais falacioso pensar que se pode ir abortar a Espanha do que decidir mudar a lei só porque haverá sempre quem a viole
25- Porque não há garantia para ninguém de que o trauma causado por um aborto não seja maior do que ajudar a dar um destino de vida a uma criança que não era desejada à partida
26- Porque não sabemos nunca se o português que estamos a permitir matar não poderá ser amanhã um compatriota de quem todos nos possamos orgulhar, útil ao País ou que simplemente faça a felicidade de outros e a dele próprio
27- Porque não conseguimos nunca analisar as coisas tão claramente “a quente” e haverá sempre um sério risco de simplesmente nos arrependermos de algo que não podemos corrigir
28- Porque não há muitos sacrifícios feitos por fortes causas que a vida que não nos retribua de algum modo
29- Porque não devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem a nós (catolicismo à parte)
30- Porque não é sério perguntar aos portugueses “concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez…?” quando está efectivamente em causa “concorda com o fim de uma gravidez por qualquer motivo…?”
31- Porque não é correcto que o Estado induza na sociedade uma “cultura laxista" ou uma "cultura de morte”, sobretudo quando tem consciência de que não pode accionar outras vias eficazes de as minimizar, demitindo-se de fazer mais para proteger um cidadão em potencial, só porque entende que essa sua protecção pode ser desrespeitada por alguns e por haver dificuldades em puni-los.
32- Porque não há dúvida de que, na dúvida, se devem deixar as coisas estar como estão


iluminado por AndRocPinho às 09:24 7 flashadas

http://faroldodeserto.blogspot.com

3:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

CA,
"Há muitas pessoas com dificuldade em aceitar uma valorização e defesa graduais do novo ser desde que é zigoto até que chega ao fim da gestação. Contudo, é assim que a nossa sociedade funciona e tentar uma valorização do embrião ou do feto como pessoa humana nascida pode levar à loucura"
Concordo consigo, considerando que a valorização e defesa graduais faz sentido, no que respeita ao que é "gradual" na natureza do novo ser. Mas o carácter humano está presente por si só no novo ser, desde que ele existe - não é gradual, tem valor em si mesmo e merece não ser deixado à sorte do livre arbítrio de alguém (não há aqui loucura - certo?). Quanto ao ser pessoa, sim, é gradual. E, dependendo dos critérios considerados, até pode ser gradual a vida toda.
Cumprimentos,
Rui

2:49 da tarde  
Blogger CA said...

Rui

Não compreendo bem a que chama "carácter humano". No início há uma entidade biológica que é o zigoto e pertence à espécie humana. Creio que essa entidade merece respeito e protecção. Mas não penso que intrinsecamente seja o mesmo que um feto de 30 semanas, por exemplo. Quando me refiro ao ser pessoa, penso que um feto de 30 semanas já é pessoa. Não me refiro à consciência ou à capacidade relacional.

3:21 da tarde  
Blogger zazie said...

Tentei responder no post acima.

Creio que os 2 têm razão mas estão a tomar a questão em perspectivas diferentes.

4:39 da tarde  
Blogger MCA said...

Já que pede ajuda para compilar os pró e os contra, eu estou a publicar n'A biblioteca de Jacinto algumas reflexões sobre o tema, sem tomar posição.
Revelarei a minha posição, mais tarde, quando a campanha começar oficialmente.

8:17 da tarde  
Blogger JPN said...

Zazie, dizes que todos os argumentos apontados pela Blue não necessitavam da liberalização para existir...e eu não percebo do que falas. estás a dizer que não necessitam? é que senão necessitavam porque tu tens uma outra ideia que os tornaria dispensáveis, venha lá ela, mas parece-me que ninguém vai votar essas ideias. vai-se votar num referendo. e eu gostaria de saber se independentemente se de ser precisa a liberalização para validar esses argumentos que a Blue apresenta, tu achas ou não que a liberalização os realiza? e parabéns por nos chamares a atenção de que "Não existem cerimónias religiosas para nado-mortos (em vez de nascituros). Não existe noção de luto- seja religosa ou laica- não existe sequer comunicação do facto. Ninguém se torna pai ou mãe de um corpo que nasce morto". por outro lado fiquei estarrecido com a linha de argumentação de androcpinho. quase diria pela métrica que estava diante de um novo manifesto surrealista. ou uma lista de mercearia fina, onde se misturam argumentos éticos, com económicos, de natureza religiosa, politicos e até futuristas (aquela ideia, arg.26, de que o embrião pode vir a ser o jogador que vai decidir o campeonato em 2027!!!, ). a ideia de que o embrião é do país, da humanidade, e sobretudo dele próprio é então estarrecente (estarecedora + comovente). não fosse o assunto sério, e os portugueses muito formalistas no seu riso, quase que se poderia dizer que é isso que a IVG faz: devolve o embrião ao país, ao mundo, a si mesmo!!! acabei de vir dar a este blogue e gostei muito do tom sereno e calmo com que se estabelecem linhas de argumentação (com excepções, como em tudo!) mas de repente ao ver um comentário como este do androcpinho "tirou-me do sério".

11:42 da tarde  
Blogger zazie said...

jpn:

Já me fartei um bocado desta história mas mereces que te esclareça.

Todas as questões elencadas- inclusive as tradições face à morte, ou ainda mais forte: a manipulação dos fetos por causa das PMA, não alteram, eticamente, a responsabilidade pela existência de um feto ou de um embrião. Alguém o fez, alguém é responsável.

O que se pode debater é questão pragmática: como será mais correcto penalizar as desresponsabilizações.

Nunca transformar a responsabilidade no seu oposto e passar a dar valor ético à irresponsabilidade.

Porque a vida é mais importante qeu a morte. Porque se um mulher e um homem se sentem felizes por saberem que vão ser pais; o mesmo facto- a descoberta que gera repúdio não deve ser mais apreciada que a felicidade por isso.

De outro modo, uma mulher grávida que ficasse feliz por isso, tinha de ser penalizada pelo facto, se o homem "optasse" por achar que tinha o direito de recusar essa responsabilidade. E a maternidade passava a ser um peso. Uma sobrecarga para a felicidade das pessoas. E o aborto seria, como na frase liberal :Um instrumento para a felicidade".

isto é que eu nego.

O que eu não nego é alteração das penas. Acho que a lei (cumprindo-se ou não, é exagerada). E acho que este refrendo passa ao lado disso, protelando-a para depois das 10 semanas. Para isso quer introduzi-la como uma prestação de saúde: em hospital de estado- à borla, ou em clínica com lucro.

Eu só penso que pode haver vantagens para mudanças se houver dados - por trabalho de campo- que demonstrem que a lei, assim como está, está a provocar mais danos que aqueles que pretendia dissuadir.

Pelo que tenho lido dessas estatísticas, não tenho essa certeza.

Antes pelo contrário- tive enormes surpresas com um sistema já montado de aborto em hospital e clínica e com uma percentagem muito mais pequena de prática em casa.

Só considero válido pesar a ética do Não com o pragamtismo do Sim.

Apenas isso. Recuso toda a demagogia do Sim a querer passar por ética às avessas. Como sou capaz de recusar excessos do NÃO que recusem pesar as consequências existentes, em termos práticos.

A esse propósito não seria a Blue a interlocutora. O SIM tem argumentos mais inteligentes noutras pessoas. O maradona deu agluns.

8:47 da tarde  
Blogger zazie said...

“referendo” e outras gralhas. Foi mesmo à pressa e já ando com vontade de desligar disto tudo. Por mim já deixei por aí o que pensava. Não creio ter mais nada a dizer.

No Lutz ainda acrescentei outras questões. Por muito que se queira isto toca em ideologias. Neste momento estou mais curiosa em observar o que se está a pensar com a mentalidade das pessoas.

Por exemplo: nunca tinha imaginado que já se tivesse chegado ao ponto de haver sintonia entre uma tradição feminista de esquerda e uma posição liberal de direita.

"O aborto como instrumento para a felicidade"

"A impossibilidade de se nutrir afecto por um embrião"

O embrião como nada porque a Ciência já provou que não há eu psíquicos"

"O aborto como algo que não tem mal nenhum "

A vontade de manter a culpa como a única questão que ainda se mantém perante a geração da vida e a sua eliminação"

A quantidade de pessoas que não sabe onde começa a responsabilidade ou o que ela é, perante a gestação de um filho, protelando-a para o campo das opções de decidir se é ou não é, se foi feito para ser ou não ser

Este é o apanhado que se pode fazer do que se lê nos jornais e na blogosfera- no campo liberal e no campo feminista ou de tradição revolucionária de esquerda.

isto é que foi a grande surpresa que tive. E que me poderá interessar para reflectir.

9:02 da tarde  
Blogger zazie said...

Fora isso há o povo que é sempre o mais sensato. Não tem grandes teorias e costuma seguir o mais óbvio.

9:04 da tarde  

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