Números
Considero que os números não são muito importantes (são frios; não pessoais), mas aqui estão.
QUAIS OS MOTIVOS QUE LEVARAM À DECISÃO DE ABORTAR?
Era muito jovem: 17,8%
As condições económicas não o permitiam: 14,1%
Por não desejar ter filhos: 13,2%
Tinha tido um filho há pouco tempo: 10,4%
Companheiro rejeitou gravidez: 9,4%
Instabilidade conjugal: 9,1%
Pressões familiares: 8%
Problemas de saúde: 4,2%
Malformações do feto: 3,3%
Já não tinha idade para ter filhos: 2,6%
Outro motivo: 8,1%
ONDE FOI REALIZADO O ABORTO?
Numa casa particular: 39,4%
Clínica privada: 32,2%
Consultório médico: 18,2%
Hospital público: 6,9%
Em casa: 1,3%
QUEM A ACOMPANHOU
Marido/Companheiro: 34,2%
Familiar: 28,5%
Uma pessoa amiga: 24,7%
Outra pessoa: 3%
Ninguém: 9,5%
EM QUE CIRCUNSTÂNCIAS ENGRAVIDOU?
O método contraceptivo que estava a usar falhou: 20,8%
Não estava a usar qualquer método contraceptivo: 46,1%
Descuido ('enganou-se' nas contas): 15%
Não faz ideia/Não sabe explicar: 18,1%
QUE IDADE TINHA QUANDO FEZ O PRIMEIRO ABORTO?
De 13 a 16 anos: 3,8%
De 17 a 20 anos: 30%
De 21 a 24 anos: 20,6%
De 25 a 34 anos: 35,6%
De 35 a 46 anos: 10%
PRÁTICA DO ABORTO POR REGIÃO
Norte: 12%
Centro: 17,1%
Lisboa: 16%
Sul: 19,7%
Portugal Insular: 3,5%
DADOS DA ASSOCIAÇÃO DO PLANEAMENTO FAMILIAR
14,5%. Portuguesas em idade fértil que já terão abortado: cerca de 350 mil.
85,7%. Interrompeu a gravidez em Portugal; 39,4 por cento em casa particular.
27,9%. Não usou preservativo nem qualquer outro método de contracepção.
72,7%. Mulheres que interromperam o aborto até às dez semanas de gestação.
34,2%. Foram acompanhadas pelo marido/companheiro; 28,5% por familiar.
29,4%. Sentiu muitas dores durante o aborto cirúrgico; 31,9% sentiu algumas.
56,5%. Teve hemorragias; 43,6% problemas emocionais; 19,1% infecções.
45%. O aborto foi feito por um médico; 30,6 por uma parteira; 13% enfermeira.
23 Comments:
Eu voto sim quando alguém me explicarem totalmente:
- Uma mulher casada poderá abortar, até as 10 semanas, sem que precise de informar o marido certo?
- No caso de um homem não assumir a paternidade poderá alegar sempre que a mulher deveria ter abortado para salvaguardar o não pagamento de pensão de alimentos. Estou certo?
- Uma menina de 14 anos poderá abortar livremente? Se ela quiser ter a criança e os seus pais não?
- Porque hão-de ser 10 semanas em Portugal e 24 na Inglaterra… Sou pelo progresso!
Podem dizer que isto são argumentos decadentes… ignóbeis… o problema é que são reais!
Bom dia Paulo,
Todos esses argumentos que fala apoiam o pensamento de quem defende a vida.
Antes de os comentar digo-lhe que antes disso tudo existe um elemento fundamental: já existe uma nova vida dentro da mulher. Essa vida é única e irrepetível e deve ter o mesmo direito fundamental que todos nós temos: o Direito á Vida.
Passando aos argumentos que fala:
- Com a liberalização do aborto, o aborto passará a ser livre, isto é, seja porque razão fôr se a mulher quiser, poderá abortar sem ter de se justificar a ninguém;
- No caso de a mulher querer ter o filho o pai (quando provado que o é mesmo) terá de assumir a criança. No entanto a mulher passará a estar mais desprotegida pois o pai terá a lei do seu lado para poder pressionar a mulher a abortar pois dirá que o aborto até é legal.
- Uma rapariga de 14 anos poderá abortar livremente sem dar justificação a ninguém
Quanto á questão temporal eu acredito mesmo que não deve existir nem 24, nem 20 , nem 10, nem nada além do já previsto na lei. Este limite temporal foi estipulado sem nenhuma razão médica ou científica específica.
Com a liberalização do aborto a mulher poderá dispôr, sem dar justificação a ninguém, de uma vida que é única e irrepetível.
CAro Paulo isto não é um argumento, é mesmo a realidade.
/me,
Embora tenhas razão e sejam apenas números, não deixo de fazer a seguinte leitura:
As circunstâncias em que engravidam não deixam margem para dúvidas: estão directamente relacionadas com os métodos contraceptivos ou com a falta deles o que me leva a acreditar ainda mais que a liberalização do aborto será encarada como mais um método contraceptivo(como infelizmente já contece no caso da pílula do dia seguinte).
São números mas falam muito da nossa realidade...
Boa estatística, /me.
Aqueles 57.3% realizados em clínicas e hospitais públicos é que são a enorme surpresa.
É um dado muito forte que altera a própria visão neo-realista que ainda tinha há pouco tempo.
É um dos dados pragmáticos que menos razões dá ao SIM.
(ainda se eles dissessem que era uma suspensão legal temporária apenas para resolver uma calamidade pública. Com intervenções em bairros degradados e outras no género).
A ver se entendo: já não é apenas o conceito de "vida" na perspectiva judaico-cristã (um factor histórico, geográfico e social, fértil em dogmas mas perfeitamente discutível) o argumento forte que se utiliza na campanha do não. O medo agora é que o aborto se transforme no novo desporto nacional! Engravido -> desengravido. E de caminho passo pelo supermercado!
Ainda há minutos li que um dos perigos do aborto é que pode conduzir a horrores como a eutanásia e o infanticídio... E porque não o genocídio?? Ou um novo holocausto?? Ou ao suicídio em massa???...
PS: Não tardará muito para que o tema da eutanásia venha a lume. Aconselho os defensores de não a reunirem argumentos...
Não me cabe na cabeça que haja responsáveis para conceber e irresponsáveis para criar e educar uma criança.
A liberalização do aborto até às 10 semanas é a perda de valores de uma sociedade, é o fomento da insensibilidade pela vida humana. É a pena de morte para um inocente que não pediu para ser gerado no ventre da Mãe.
Por isso VOTAREI NÃO... pela defesa da VIDA
enoch:
lê isto e vê lá se não há outros medos ainda mais terríveis que a mera simplicidade de quem ainda acredita que "a gravidez não é pecado".
http://arrastao.weblog.com.pt/arquivo/2007/01/corno_i#comment-863679
"Mantém-se a questão: e as mulheres que engravidam sem pedir a opinião do parceiro (namorado, marido, o que for)?, que querem vocês fazer-lhes?"
Obviamente não se pode obrigá-las a abortar pois isso seria agressão física.
Mas é francamente injusto obrigar o homem a ter de criar um filho que não deseja.
Se bem que, se fosse provado que a mulher engravidou propositadamente (mas o problema é o tempo que isso demora) se calhar devia ser obrigada a abortar.
É uma situação demasiado complexa para ser analisada por alguém sem formação para tal (e que seja ateu de preferência).
Segundo esta notícia em:
http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=227406&idselect=228&idCanal=228&p=200
de onde foram tirados aqueles númros, uma toxicodependente já tinha praticado 3 abortos pois não usava contraceptivos e os vizinhos ainda ajudam à festa comprando-lhe o citotec - é decerto possível evitar que ela volte a engravidar e ajudá-la em muitas outras dificuldades que ela tem certamente e como ela tantos outros: Nestes casos não se pode permitir que sequer engravidem, quando se sabe à partida que há história de HIV ou outras doenças prejudiciais à criança; a não ser que a mãe não seja portadora e seja possível recuperá-la do seu problema de toxicodependência; e muitas vezes, a criança é portadora mas a doença reverte com os anti-retrovirais - nestes casos criando condições a vários para a mãe criar aquela criança pode muito bem evitar-se o aborto. Isto é possível. Não podemos permitir que as ditas circunstâncias que se usam (entre outras) como justificativa para a prática de aborto, continuem a ser aceites.
Com a liberalização do aborto ainda mais se vão deixar estas pessoas ao deus dará, por sua conta e risco, sem orientações adequadas, sem medidas efectivas.
Mas a grande maioria que quer a despenalização, não é esta. A grande maioria é a outra parte, que até são pessoas com boas condições, sem grandes dificuldades, com formação, outros porque não querem que se saiba, ou que querem esconder do marido,.... Por isso a permissão do aborto livre é um grande risco e a tendencia preocupante é que cada vez mais se aumente o tempo de gestação permitido. Desde uma fase muito precoce da concepção há vida humana, está lá tudo; e às 10 semanas também - há certamente uma vida humana digna de protecção e com o direito de ser preservada e cujos direitos ainda mais se reforçam quando querem matá-la por razões egoístas ou porque a sociedade e o estado não criam condições como é seu dever
O ÚNICO BLOG ONDE SE DISCUTE ESTE ASSUNTO, VÁRIOS PONTOS DE VISTA E OPINIÕES PELO SIM E PELO NÃO!!
Expõe o teu ponto de vista quer do Sim quer do Não.
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Aqui fica o link de uma mapa curioso:
http://www.pregnantpause.org/lex/world02.htm
Pois é, ó /me: estes nºs que aqui colocaste mais o outros da entrada em hospital devido a complicações (mil e tantas, não era?) isto é que torna tudo menos fácil de dizer que se sabe o que é melhor.
ehehe
Dizias tu que não acreditas que possa haver quem mude de direcção de voto?
Pois eu ia jurar que nem sair da dúvida consigo...
São os nºs e as complicações resultantes da falta de cuidados por um lado; é aquela cena macaca dos embriões congelados e a irem à vida por conta das PMA, por outro...
Zazie, mas olha que eu não faço de propósito! :)
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ehehe
Pois não. Mas a minha abstenção fortalece-se
A coisa anda assim: por motivos éticos, o NÃO só tem uma machadada pela precedência dos embriões de laboratório, que também vão fora sem haver processo para ninguém.
Por motivos pragmáticos, de consequências de saúde, e ainda pela lei idiota que nem altera as penas, a abstenção tem muita força.
ehehehe
Só me faltava saber como são as penas nos outros países da Europa. Esse detalhe é que não sei. Mas aquele quadro e a mudança se o nosso SIM ganhar é uma ruptura que ainda ultrapassa a liberalização de muitos outros.
Nos outros existem condicionantes como a pobreza, por cá, este Sim é mesmo sem mais motivos.
zazie: "Aqueles 57.3% realizados em clínicas e hospitais públicos é que são a enorme surpresa."
??? De onde vem este número? O valor que lá está é de 6,9%.
Os apoiantes do "não" têm consciência que o estudo da APF veio, na generalidade, dar razão ao "sim", certo?
Luís, não posso falar pelos outros apoiantes do "não", mas por mim estes números, como de costume, podem ser lidos do modo que se entender. Se quiser ler na lógica do não, pergunto se é lícito abortar pelos motivos que estão indicados levar à decisão de abortar.
Também posso falar das 27.3% de mulheres que abortaram após as 10 semanas, e para as quais a mudança de lei não alterará nada (e, se quiser ser chato, posso devolver de hipócrita a quem defende o "sim" por condenar essas mulheres).
Mais importante ainda, o número de mulheres que engravidou por não estar a usar método contraceptivo, por este ter sido falhado (quase de certeza mal usado?) ou por descuido, leva a crer que o aborto acaba por ser usado como método contraceptivo. O que é profundamente errado.
Petit, dizer que os abortos justificados por possíveis falhos nos métodos contraceptivos ou por distracções se transformam, eles próprios, em métodos contraceptivos, é uma suposição tua e de outros. Não é factível, e o pior, é grave e alarmista.
Talvez seja ingenuidade minha, mas não consigo imaginar ninguém a submeter-se de ânimo leve a um aborto. É uma decisão difícil a nível emocional e violenta a nível físico -- mesmo para a tal toxico-dependente que alguém comentou antes.
Parece-me que os defensores do não se esquecem constantemente que a maior parte da sociedade, independentemente da posição que adoptem nesta dicotomia sim/não, está contra o aborto como conceito. É uma ideia triste, violenta, desagradável, eticamente questionável... ainda que, apesar de tudo, alguns de nós a consideremos uma medida necessária.
Enoch :),
na verdade eu não gosto de argumentar com números. Fi-lo como exemplo académico. Churchill dizia: não acredites numa sondagem a menos que tenhas sido tu a falseá-la. Eu vou mais ou menos na mesma onda. Não só quanto às sondagens, mas mais ainda quanto às conclusões que se tiram das mesmas.
Aliás, só coloquei aqui a sondagem por uma questão de honestidade, porque sei que há a quem interesse, e se tento promover a discussão, não devo ir buscar só aquilo que me interessa.
Infelizmente, acredito que haja quem aborte de ânimo leve. Tal como conheço casais de namorados que se deixam levar pelo calor do momento e para os quais a pílula do dia seguinte é já uma trivialidade (e aqui preocupa-me principalmente a saúde das raparigas que fazem isto, confesso). Enoch, infelizmente, há malucos/as para tudo.
Entendo que se veja o aborto como uma medida necessária. Mas em qualquer caso, Enoch? É isso acima de tudo que contesto. Por mim até admito que se inscrevam na lei um milhão de casos em que seja possível abortar (embora muito possivelmente vá discordar de muitos deles; ainda não pensei nisso). Mas simplesmente não ter de haver uma justificação, não haver limites (para além do temporal das 10 semanas), choca-me.
luis v:
Não está lá nada 6.9. Basta somar tudo o que não é feito em casa.
Referia-me a isso. o vão de escada é que tende a ser cada vez menor. Significa que já existe um sistema de saúde montado.
No caso dos hospitais há-de querer dizer que esse sistema até é feito clandestinamente e à borla.
Não acho isto tão inquietante como lhe pareceu. Acho até que é capaz de ser aí, nesse sistema de médicos e enfermeiras, que arriscam a carreira, que se faz alguma triagem.
Triagem com muito mais sentido que esta ideia de vale em qualquer circunstância. Sem mais motivos.
Tal como o /me este é um dos pontos que leva a muita gente a ficar fora do SIM.
Se calhar, o que está errado é o próprio referendo. Não me lembro de em algum país umas alíneas legislativas terem ido a referendo.
Vamos ser chamados a votar uma questão de leis, para a qual até era necessário ser jurista para perceber as implicações e os fundamentos.
/me
A questão deve ser vista num todo. Se houve muitas mulheres que não usaram contracepção muitas outras tiveram esse cuidado. O "não" prejudica-as a todas, enquanto o "sim" salvaguarda as que se protegeram (tendo como efeito negativo, para quem é determinante este factor, também beneficiar as que não se protegeram).
Sobre as mulheres que abortam para além das 10 semanas acho que não é como diz. Quando fala nesse número está-se a referir a mulheres que o fizeram numa situação de clandestinidade. Com a despenalização a situação pode ser bastante diferente já que podemos ter a expectativa que as IVGs sejam feitas mais cedo, contando com a experiência de outros países. O que para mim é mais relevante nas 10 semanas é que este prazo permite à mulher escolher, dá-lhe uma opção, por isso os argumentos do "não" nesta matéria parecem-me bastante frustrados.
Somando os que são feitos em casa dá 40,7%, o que é ainda um valor muito alto, quase metade. E não sei como e por quem são feitos nos hospitais, clínicas e consultórios, a clandestinidade pode dar azo a diversas situações menos seguras. Seja como for, mesmo a IVG sendo feita por esses profissionais da saúde, a responsabilidade pelas consequências de alguma falha não é a mesma.
Luís, concordo com tudo o que dizes. Mas acho que não entendeste o que eu queria dizer. Queria somente ilustrar como estes números podem facilmente ser lidos na lógica do "não" (ou do "sim"). Pessoalmente, ligo pouco a estas estatísticas, e não há leitura que me convença em nenhum sentido.
A vida e a dignidade humana, para mim, medem-se em valores infinitos. Portanto, o sofrimento de uma única mulher e o drama de um único aborto, já rebentam com a minha escala. Basta que haja a possibilidade de uma mulher sofrer sem necessidade ou de haver um aborto sem justificação para que eu seja obrigado a olhar para a questão como um todo, para usar as tuas palavras.
Por isso, peço-te desculpa de te ter feito contra-argumentar o que eu disse - e dou-te toda a razão naquilo que afirmaste. Mas os meus argumentos apenas pretendiam ilustrar a pouca credibilidade que dou a conclusões que se tirem de estatísticas. Mea culpa, não me expliquei bem.
A minha posição de fundo é: aborto sem justificação não. E por isso nunca poderei concordar com o "sim". Não sei se o "não" serve aquilo que eu acredito ser ideal, mas pelo menos não é uma fuga em frente que não me parece fazer sentido.
A APF tem defendido activamente a liberalização do aborto e está ligada à IPFF que por sua vez gere a maior rede mundial de clinicas de abortos. Por isso há sempre que ter alguma cautela com os numeros de estudos encomendados pela APF.
Quantos aos dados sobre os abortos aí referidos há que ter em conta que não representam uma fotografia do momento presente. Incluiem dados antigos. Foram inquiridas mulheres até aos 49 anos que responderam em função dos abortos que fizeram, muitas vezes até 30 anos atras.
Sendo assim é evidente que os abortos actualmente são muito menos praticados em casas particulares que o apresentado. Actualmente a % de abortos que é feito em clinicas e hospitais é certamente significativamente superior ao apresentado.
camilo do forum paroquias
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