A proposta da fuga para a frente
(...) Desde o último referendo, pouco ou nada se fez em matéria de educação sexual. Não no sentido formal - como alguns fizeram crer que seria possível pôr em prática, nomeadamente nas escolas (quer na propaganda do 'sim', quer na do 'não').
Depois de um boom de informação sobre os comportamentos de risco em matéria sexual, e não só, motivada pela forte propagação do SIDA, nos anos 80, procurou-se capitalizar, e bem, esse fluxo de informação na década seguinte, de forma a moldar a sexualidade diminuindo também o risco de uma gravidez indesejada.
O que é certo é que os jovens desta década continuam a descurar a prevenção, num claro retrocesso comportamental. A falha está aí e essa não é substituída por uma solução de recurso como é o aborto. Esta crítica não é moralista nem se dirige ao comportamento dos indivíduos na sua intimidade.
A SOCIEDADE evolui a uma vertiginosa velocidade, a virtualidade ganha terreno e a materialização dos valores assume um risco tremendo para quem procura um eixo em si próprio.
Nesta matéria, como em tantas outras, vive-se a ideia de que com um acto instrumental se resolve um problema momentâneo de forma definitiva.
Quem abortou diz-me que não, que não é assim, que as 'marcas da memória' se mantêm por toda a vida. Pelo que não pode o Estado - apenas para pôr fim «a uma sucessão de julgamentos de mulheres pelo crime de aborto que confrontaram a nossa sociedade com uma lei obsoleta e injusta, que coexiste com o drama do aborto clandestino» (Programa do Governo) - demitir-se do seu papel anterior e, ainda por cima, anunciar juízos de valor sobre a actualidade da lei em vigor e a sua justeza.
DEMITE-SE também o Estado nas políticas de apoio à família. É inadmissível e desonesto que, sempre que os arautos do 'sim' falam da 'necessidade' de mudar a lei, não falem das medidas de apoio à família, à sua formação, ao seu desenvolvimento.
Lanço, por isso, este desafio: não será mais injusto pedir a uma mulher que toma conhecimento de uma gravidez imprevista oferecer-lhe uma (ilusória) 'solução chave-na-mão' sem lhe dar - o Estado - a possibilidade de optar pela segurança e conforto da decisão pela vida, pela novidade, pela criação de um projecto de continuidade da sua existência, apoiada na segurança, no impulso positivo?
OUVI hoje mesmo alguém dizer - com algum sarcasmo, é certo - que estamos atrasados na criação do 'welfare state' e já querem acabar com ele. Pois bem, não seria muito melhor propor esta equação à mãe que lida com a dúvida do momento?
É que não se trata de ver nesta questão o fundamentalismo de que todas as gravidezes são desejadas. Quantas não foram e produziram a maior felicidade às suas famílias e à sociedade. Trata-se da honestidade da abordagem do problema, como tal, como um problema, cheio de dúvidas e incertezas a que as respostas devem ser construtivas e não demissionárias.
Essas respostas, como se prova, não existem no 'sim'. Nem agora, na campanha. Temo que não se debata a dúvida que apenas se fechem os punhos em torno desse radicalismo da liberdade da mulher, que seguramente a merece, mas como qualquer ser humano. Parece é que, assim, há um que não a tem. E esse direito é inalienável.
Luís Varela Marreiros
Sol, 16.12.2006
7 Comments:
como identifica um em um e não dois ou muitos em um, faço esta pergunta
A verdadeira pergunta do referendo ao aborto:
Aqui!
A verdadeira pergunta, como é isso, existe uma verdadeira pergunta?
o argumento -matar o outro- reve-la alguma brutalidade, não perceberá que a vida está em constante transformação, que os limites entre a vida e a morte não são apenas fisicos, que a vontade a sensibilidade a experiencia de cada um em si estabeleçe estes limites, que não se deve mandar no individuo porque mesmo que este haja bem não sabe porque o está a fazer, torna-se idiota e se hoje haje bem amahã haje mal, e á merçe da moral a morte de outro já é concebivel.
Que no passado se experimentou verdades destas instituidas e que se matou tanto ou mais que nesta sociedade individualista.
Não percebo como um homem pode falar de matar o outro quando o seu corpo não tem o dom de criar nenhum, imagino que seja por raiva, acumulada.
Estas tiradas argumentativas, parecem próprias d´morte do outro, talvez não fisico mas mental e espiritual.
em primeiro,que conheça e tenha acompanhado, há uma associação há a anos a fazer trabalho de campo em educação sexual, realmente, com os braços, as pernas e os olhos, está lá para os miudos nas escolas, quando lhe PERMITEM. bem como professores não vinculados a nada, que vendo-se ser interpelados com a necessidade, dão realmente aulas á revelia de programas e obrigações estatais, porque acham simplesmente que foi preciso. mas quando a coisa oficializou foi burburinho e pateada, nada era adequado(lembram-se?) e a experiencia de anos no terreno da APF foi espremida até á inutilidade.
A possibilidade de segurança e conforto da maternidade, lá está, não vem só do senso de ter feito "the right thing", vão lá dar uma olhadela ao direito do trabalho e das mulheres em certo país nórdico (editado pela gulbenkian, não há desculpa).e aí afloro o radicalismo da liberdade da mulher, com o radicalismo da cidadania da mulher. faz favor de dar uma olhadela.
Visite o meu blog: www.digasimvida.blogspot.com
os limites da pedagogias batem contra a parede, de que não existem sociedades perfeitas, nem assuntos acabados, mas cada um escolhe as suas bandeiras, sim à vida claro, não à mortes se lhe agrada.
"carta de uma crianças abortada"
espero que a pedagogia que fazem nas escolas não tenha nada a ver com isto.
Enviar um comentário
<< Home