Nota 2, ou esclarecimento para o Manuel e para o David, com eventual interesse geral para o tema em discussão
1. A separação entre “género argumentativo” e “posição vital” é farisaica – ou tradicionalmente assim denominada, com injustiça histórica para os fariseus. Isto porque o farisaísmo não ocorre nos conteúdos, mas na forma, ou se preferirmos, na relação com os conteúdos, precisamente na sua desvitalização e absolutização abstracta. O que está esplendorosa e definitivamente identificado na afirmação do Moço: É o sábado que serve o homem, e não este o sábado. Para entender-se bem isto (ou seja, cristologicamente:P tem de ter-se em conta que na boca do deus vivo, o humano nunca é genérico e abstracto, mas sempre singular e concreto. Nunca é um ele mas sempre um tu, e quando é um ele, é para revelar-lhe a sua irrealidade pelo silêncio ou pela diatribe, repondo o concreto pessoal no centro do coração e das decisões e do pensamento e do sentimento e etc por aí fora.
2. Não se trata de negar a conceptualidade e a generalidade, de não ter “género argumentativo” ou espírito analítico, mas de nunca subsumir o concreto à ideia, o que ocorre na separação objectivante em que a dinâmica lógica e dialéctica prossegue apoiada apenas em si própria. A maioria dos silogismos são demoníacos (lição dos muçulmanos;) – produzem uma cisão entre as representações e o fluxo de vida, separando-nos do divino e de nós próprios, depondo-nos na inautenticidade. Quando se idolatra a cabeça, rolam cabeças concretas no cadafalso, a começar pela nossa que se aliena em representações desligadas de si. É sempre assim. É sempre em nome duma ideia da vida que se pisa a verdadeira vida. Dreams of reason produce monsters – não poderia dizê-lo melhor. A razão é um instrumento, não uma finalidade em si.
3. Nota histórica que não serve de muito aqui mas que no entanto é devida: houve historicamente fariseus não farisaicos, isto é, que reconduziam à vida concreta e ao amor desta os seus ditames, fracassando ou não, mas isso é outra estória (e História;)
4. Eu não invoquei o Estado liberal, visto até que ele está aí e nele nos socializamos. Eu tenho até imensos problemas com o sistema liberal aliado à democracia representativa, muitos dos quais são os que me levam a não votar no referendo, fosse ele sobre o aborto ou sobre a rede de electricidade do país. O que eu quis dizer é que o referendo e o sistema legislativo em que este é feito são o que são, e que não faz muito sentido invocar fora dele uma qualquer “instância que diz respeito a todos” – qual será, fora dum sistema ideológico ou de valores?... O comer e respirar? :P O Manuel invocas uma instância exterior, a que chama civilização, e que se bem percebo, teria como um dos seus fundamentos constitutivos o respeito e defesa da personalidade humana (isto é, o seu valor próprio e individual) acima de qualquer detenção de poder e posse vital de outrem (neste caso a mãe, ou os pais, ou o Estado, ou os médicos...). Pretende o Manuel que isso é uma “evolução civilizacional” – dos direitos da personalidade filosófica e jurídica de escravos, mulheres, deficientes, homossexuais, etc, desembocaríamos natural e evolutivamente nos direitos pessoais da concepção biológica “ab initio”. Passa-se que isto não é líquido nem natural ou historicamente legítimo. É uma posição ideológica.
5. Trata-se portanto dum sistema de valores e horizonte de sociedade-a-vir, e que só pode advir de narrativas e horizontes religiosos ou outros. Pois nunca a lógica e a analítica e método hipotético-dedutivo da ciência, seja a biologia ou outra qualquer, te dará, Manuel, essa “inviolabilidade da vida desde a concepção”, assim como a sua personalidade jurídica. Acrescente-se que afirmar que um óvulo fecundado é imediatamente uma pessoa ou ser humano completo e autónomo, não releva de todo da biologia. O truque aqui é fazer passar uma posição ideológica por instância neutra, natural, universal. E mesmo que eu tenda ideológica e abstractamente a aderir a tais valores em jogo, de modo algum o faço com essa técnica de dissimulação e abstractivação com pretensão universal. Pelo contrário, considero-a de raiz e formalmente, um perigoso farisaísmo, mau ou bom grado os seus conteúdos.
6. Esta afirmação da “inviolabilidade da vida desde a concepção” tem aliás consequências noutros fenómenos que não o aborto, e ou são assumidas desde logo ou então merda. Refiro-me por exemplo às questões de certas fecundações artificiais, acerca das quais não tenho conhecimento suficiente para esclarecimentos, e de tantas outras que não sei. Mas penso que para defender-se a universalidade dum princípio, se deve fazer um levantamento de todas as consequências da sua aplicação, e não apenas aquelas que dão jeito (neste caso o aborto, que é evidentemente e para a maioria das pessoas, incluindo as que vão votar “sim” – um mal.).
7. Reesclareço que os personagens e situações ficcionalmente descritas pela minha lírica pena não pretendem representar ninguém, nem sequer imitar a realidade (seja lá o que isso for;) Tratam-se de singularidades poéticas, que trazem dos fundos do que me habita imagens e símbolos que possam ecoar noutras singularidades vivas (a começar pela minha própria consciência). Não se trata de dar exemplos ou ilustrações de nenhuma posição ideológica, mas de aceder a certas fontes de vida e palavra. Estão muito mais perto do poeta e do músico, do que do político e do moralista, precisamente pelos motivos atrás invocados do que entendo que é a fonte de salvação. Primeiro a vida, e depois a sua orientação; ou então teremos a vida orientada por algo que não a conhece e pretende substituir-se a ela. O costume, venha como vier e venha donde vier. O que nos vale são os profetas, que os Herodes hão-de sempre e continuamente assassinar.
8. Este esclarecimento é evidentemente cristão, no seu sentido profundo, isto é – a apropriação vital que me conduz e pretendo constituir pessoalmente. Outras apropriações há, (sobre)naturalmente. De algum modo, estamos sempre presos à nossa situação e decisões de sentido e orientação.
9. Este diálogo e debate está tão viciado à partida que me cansa ainda antes de eu o começar. E não o está pela dialogalidade e adversidade ou concordância de posições, mas intrinssecamente. Aqui estou em absoluto acordo com a Vanda (sim, o autor não é as personagens): estamos (ou estou) ainda a milhas duma libertação de todos os escolhos conscientes e inconscientes, individuais e colectivos, políticos e biológicos, que em mim se entrelaçam para poder botar discurso seguro. Mas a partir daqui devo calar-me. Teria de pôr em análise e aferição, o que faria eu se porventura fosse votar, ou se preferirmos, o que gostaria que fosse a legislação do aborto. Tal não fiz, por motivos já referidos de não ir votar. E isso implicaria um esforço de levantamento de questões que poderiam extravasar o sentido da minha participação aqui, para além da trabalheira que não me está a apetecer ter ;) Discutir o voto no referendo é algo que não está incluído no meu contrato para este blog., por muito estranho e ilegítimo que possa parecer. Pelo menos, até ver. Aviso no entanto que se o fizer, será directamente, e não indirectamente através de subtextos ou surdamente tendenciosos lirismos. Interrompe-se portanto esta interrupção, e volta-se à tarefa iniciada.
10. Bolas, no que eu me meti! Que Deus me conduza, caragos mil, qual neutralidade qual caraças!
Abreijos a tutti quanti.
6 Comments:
Não percebo onde queres chegar.
Tão depressa me pedes que concretize como me levas pela mão à estratosfera das tuas muito cultivadas dúvidas.
Parece que descobriste agora que todas as nossas convicções têm de vir de algum lado. E queres à força que eu reconheça que as enraizo na religião ou noutros horizontes longínquos. Como se desmontando o puzzle das origens, mudasse o sentido do presente. Faltaria depois, penso eu, empreender a tarefa construtivista de uma concepção do mundo e da vida a partir de um vazio conceptual...:) Desculpa, mas vai andando que eu já lá vou...;)
Não me queiras atribuir fantasias nebulosas. Se falo de uma certa "evolução civilizacional" reflectida nas leis que nos regem, isso não se deve a nenhuma fundamentação em "horizontes religiosos ou outros"... Constato apenas que o sentido dessa evolução é de uma progressiva protecção da vida e dos direitos humanos. Que me parece positiva. Se quiseres, vamos até ao "big bang" à procura dos fundamentos, mas parece-me que temos mais que fazer.
Nesta linha de protecção da vida, a questão do aborto é transparente: deve ou não proteger-se a vida intra-uterina?
Eu acho que sim porque, apesar de todas as dúvidas mais ou menos razoáveis, parece-me claro que, desde a concepção, se inicia um processo que, a não ser interrompido, terá o seu ocaso na morte natural.
Falas-me tu de que isto não é líquido, que a biologia não dá certezas, blá, blá, blá... Hás-de explicar-me então onde vão cimentar a certeza das 10 semanas. Que espantosa transformação há nesse momento?
Dizes tu, a certa altura que proibir o aborto é colocar sobre a alçada da lei uma questão que transcende a própria Lei. Plenamente de acordo. Mas por diversas razões: primeiro porque entendo que o direito à vida não é referendável (e aqui dirás tu: lá vem o discursozinho de sempre... pois!). E segundo, porque acho um disparate que a queiram colocar sob a alçada da lei, ao contrário: "feito por vontade da mulher, até às dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado". Não só é submeter uma questão que transcende a lei, à lei, como regulamentá-la de forma completamente arbitrária sem nada que sustente tais precisões.
Tu estás cansado desta discussão? Também eu. Mas a exaustão não muda a essência das coisas.
Chegar? Previamente, não sei… ao outro, penso eu. Mas vamos com calma, que a crispação é boa para fazer vir ao de cima certas coisas, emocionais e intelectuais e relacionais, mas temos de a usar com parcimónia, não vá ela granelar a ponto de não se ouvir o outro ;)
Admito que sou um nhurro chato como a putaça;) mas que é que tu queres… doutro modo não estaria a ser sincero, isto é, a exprimir o que realmente se passa comigo perante o assunto do aborto.
Primeiro o cansaço, talvez não tenha aqui sido claro o suficiente. Não me refiro a um cansaço devido ao rebatimento dos mesmos argumentos, para isso bastaria calar-me ou simplesmente descansar antes de recomeçar a pensar ou falar sobre o assunto. Trata-se dum cansaço prévio, que indicia uma tensão interna cujos pólos e processos não me são claros. É daqui também que brota a crispação quando se fala neste assunto, e não de posições diferentes que possam mutuamente exasperar-se. É algo que mexe com muita coisa, que é difícil trazer à consciência, como exprimi no meu acordo neste ponto com a mana Vanda.
A essência das coisas é a ideia delas, que não se produz a si própria, precisa duma mente e das coisas para tal. O problema é quando desse encontro se subalterniza um dos pólos. Mas isso, penso que ficou mais ou menos claro. E é para tal não ocorrer, e pela impossibilidade dum pensamento decorrer a partir dum vazio conceptual, como tão bem dizes, que me parece necessário fazer o levantamento das concepções de vida e mundo que subjazem aos princípios invocados. Aqui, fui eu que não percebi muito bem o que não percebeste. Não tem que ser, para o diálogo e esclarecimento, obrigatoriamente um levantamento histórico ou religioso ou outro. Pode até ser uma descrição science-fiction, ou utópica, ou uma declaração de finalidades concretas, sei lá. Tem de ficar patente a sua estrutura ideológica, foi só isso que eu disse. Não pode não ser nada, ou uma indefinição como “evolução civilizacional” sem que se perceba de que raio se está a falar. Mas não vale a pena bater mais no assunto :P penso que a ideologia civilizacional que advogas já está suficientemente bem descrita.
Não posso comentar a das dez semanas, porque não tenho conhecimentos biológicos para tal. Mas penso que, juridicamente, deve ser uma convenção de razoabilidade qualquer, como a idade da maioridade (porquê aos 18 e não aos 19, por favor…) Seja como for, é escusado falar-me como se eu estivesse a defender o “sim” (fónix!) ou a pretender afirmar que não há pessoa desde a concepção. Não é esse o meu estertor. O que eu disse foi que biologicamente não há ser humano, há processo de gestação, ser potencial, se quiseres. E não se prendem pessoas por assassínios potenciais, por enquanto, pelo menos, e como disse o /me, não fazemos funerais a abortos espontâneos. Isto deve estar a irritar-te (eh eh eh) mas que queres, parece-me um ponto fundamental… Pois visto que o princípio de inviolabilidade da concepção desde o início, considerada pessoa ou fase de pessoa ou que raio é, é entendido como princípio fundamental e universal da sociedade que propões e queres lutar por, tem que se fazer o levantamento das aplicações desse princípio, não?... Mas aqui, já me estou a repetir sem acrescentar mais nada ao que já disse.
Não sei muito bem o que queres dizer com a vida não ser referendável (para isso, a tal sociedade baseada nessa defesa intransigente de toda a vida teria de estar instituída, o que não me parece de todo o caso, e o facto de eu gostar ou não gostar disso não muda em nada a realidade social)… mas sei que a morte nunca foi um limite para a actividade humana, incluindo a morte do planeta. O que consciente ou inconscientemente nos crispa aqui é o sexo e as mulheres. Como o tabaco, aqui temos um bode expiatório para todos os nossos menores ou maiores assassínios, está mesmo à mão e uma pulsão alimenta a outra, é tudo uma questão de investimento.
(Não sei se o parágrafo anterior é meu ou da Vanda :P Não, não estou a fazer piada… o meu pensamento nestas coisas não está suficientemente esclarecido para distinguir, em certos limites, entre o que penso ser a minha posição, e a produção de pontos de vista indagatórios e experimentais acerca do assunto.)
Faço notar que identificares “a pedido da mulher” com “totalmente arbitrário” é um voto de incapacidade que estás a passar às mulheres. No Direito que nos rege, pressupõe-se cada cidadão, sem prova em contrário, capaz de decisões responsáveis. Até parece que o facto de doar essa responsabilidade às mulheres fará com que elas desatem a abortar à maluca ou coisa do género… Elas são todas umas devassas, há que pôr os médicos e o Estado a controlar a legitimidade das suas decisões abortivas… Isto aqui, também é problemático. Muito mesmo.
Porque a intenção da maioria dos votantes sejam do Não sejam do Sim, é a da defesa da vida (enfim, talvez não desde a concepção… :P) e o evitar o aumento de abortos e suas consequências. E isto também é importante. O resto é desinformação.
Mas como te disse, eu não penso nada claro sobre este assunto, e também estou aqui para confrontar-me e aprender. Em certos momentos do diálogo, como este, extremam-se posições e anulam-se as concordâncias, para da mútua interrogação surgir mútuo esclarecimento. Nada mais, pá. Eu também acho que o aborto é mandar um filho à viola, já o disse.
Falta-me dizer que a ideia de que alguém deixe de fazer um aborto por não ter apoio ou validação legal me parece completamente demagógica (não há uma morte, no caso de “crime sem pena”, não percebi de todo), sobretudo para os casos em que estas coisas são dramáticas (as outras fa-lo-ão tranquilamente do alto do seu poder e finanças). Fa-lo-á sempre, a questão é em que circunstâncias. E quanto a essa identificação entre ética e lei, já exprimi o meu problema. Mas eu nem sou a pessoa melhor indicada para falar seja de ética, seja de leis, até porque considero esta s uma parte infíma da sociedade, apesar do seu alarido, e nem sequer a mais interessante ou produtora e garante de valores e horizontes… Ainda vou a caminho, que é que queres, não passo de um neófito… :P
Abraço.
Vitor,
Não te deixes impressionar pelo tom por vezes crispado das minhas palavras. A crispação (o que eu gosto desta palavra!) está muito abaixo da consideração que tenho por ti.
Dito isto, parece-me ser necessário proceder a dois ou três esclarecimentos:
1.Dizes tu, com a ressalva de não teres certezas, que a questão das 10 semanas deve ser uma "convenção de razoabilidade", comparando-o com a definição da maioridade. Percebo a analogia e entendo o que dizes. Mas sei que estás consciente que, admitindo eu a vida desde a concepção, a comparação não me pareça aplicável por razões óbvias...
2. Quanto a considerar o embrião uma vida potencial e não uma vida parece-me, com sinceridade te digo, uma cedência ao facilitismo de decretar o tal "tempo de ninguém". Nesse caso, fica a dúvida. E, em caso de dúvida, decido pelo "réu".
Podia referir aqui a incoerência implícita entre proibir a destruição de ovos de espécies protegidas e permitir o aborto, mas acho que era brincar com coisas sérias.
3.É verdade que não se fazem funerais por abortos expontâneos precoces. Mas se fores perguntar às mulheres que abortaram nessas circunstâncias certamente te confirmarão a experiência do periodo de luto psicológico, próprio das perdas significativas.
4. Que não percebas o que quero dizer ao afirmar que a vida não é referendável, já me parece estranho. Concebendo a existência de vida desde o princípio, faz tanto sentido referendar a possibilidade de abortar como de condenar à morte, como de escancarar a porta à eliminação dos indesejáveis. Aqui já estarás tu com as mãos na cabeça, aflorando-te aos lábios o epíteto de "fundamentalista", que sei que não usarás por educado que és. :) Mas não é disso que se trata. Com certeza que vejo as diferenças de umas situações para outras com todos os seus matizes.
5. Dizes tu que "O que consciente ou inconscientemente nos crispa aqui é o sexo e as mulheres". Lá estás tu com o sexo e com a história da puta e da virgem! Não é disso que se trata. É precisamente aí que eu não coloco a questão. Precisamente porque tanto vale o filho da puta como o filho da virgem!
E não... não penso que o sexo tenha apenas uma função procriadora, nem alimento fantasmas sobre essa matéria.
6. Eu não identifiquei o "a pedido da mulher" com "totalmente arbitrário". Referia-me à definição das dez semanas.
7. DEfender a legalização do aborto em nome da diminuição real do número de abortos é uma falácia.
Os números disponíveis não apontam para aí.
Além de que o cerne desta questão não está nos números.
8. Não duvido que as pessoas que fazem campanha pelo SIM sejam pessoas de bem. Não sou dos que vêem taradas, irresponsáveis e exploradores de grávidas em todos os cantos. Esse discurso não é o meu.
Parece-me, isso sim, que a campanha pelo SIM oferece argumentos muito débeis e foca o problema de uma perspectiva equivocada. Mas isso é óbvio, senão estaria do outro lado...:)
Feitos estes esclarecimento, importa dizer que, ao contrário do que possa parecer, não tenho nada as coisas límpidas e claras. Aliás, muito poucas coisas são claras para mim. Mas precisamente por isso, prefiro defender soluções de prudência. Eu próprio estou consciente da cobardia implícita da defesa de "crime sem pena". Mas a alternativa afigura-se-me como uma irresponsabilidade cruel. E entre as duas, prefiro a primeira.
De modo nenhum, Manel, crispemo-nos ;)
1. Eu não disse vida mas ser humano, pessoa… Vida é um termo muito vago… Mas eu aqui até agradeceria o apport de alguém versado em biologia.
2. O réu aqui é também a mulher.
3. Sim. É sempre mandar um filho à viola. Por isso as/os que tal decisão tomam o fazem por “mal menor”, geralmente. Quem define quando é ou não legítimo, afinal? Qual o poder e limites da maternidade/paternidade (ir)responsáveis?... Isto no caso de defender-se que há casos em que é a menos má opção, porque os que defendem que deve sempre focar-se na salvação biológica do “X” biológico em gestação desde a fecundação, não põem esse problema.
4. Mas essa concepção não é a da sociedade em que estás (ou não o é por princípio) e que propõe o referendo. E o fundamentalista sou eu, que raio… que até invoco (aí sim) o cristianismo. E se me crispas muito desato a falar no pecado original, ou melhor, a nomeá-lo directamente… ;) Falo evidentemente da separação com a fonte e com a verdade de si, e não de qualquer bacoca interpretação sexual da maçã (mas porquê a maçã?...:).
5. Aqui não sou bem eu… todos alimentamos fantasmas nesta matéria. Consequências dum patriarquismo acirrado e quase universal.
6. Ah… não sabia. É mesmo totalmente arbitrário, quero dizer, sem argumentação biológica?... Não acredito que tenha sido moeda ao ar, bolas :P
7. Sim. Tal como a ilegalização em nome do mesmo.
8. Relativamente a isso a campanha do sim defende que as mulheres são suficientemente conscientes e responsáveis, excepto com prova em contrário, para tomar a decisão adequada às tensões em jogo. Quero dizer, não faço a mínima do que os grupos do sim e do não defendem no geral, porque não sigo este debate com atenção a não ser aqui e quando calha… Mas é um argumento que me parece pertinente, ou no mínimo “crispador”.
Abraço.
Ah, pequeno reparo para o ponto 7: os números não podem senão falaciosamente apontar seja para o que fôr, visto a contagem dos abortos ilegais não ser de todo possível com o mínimo de seriedade.
Isto tem o seu quê de terrível e obscuro.
Porque todos pensamos - e não me refiro evidentemente apenas aos participantes e visitantes deste blog - que o aborto é um mal.
O que separa e crispa afinal?
Coisas que vêm agarradas e subliminares, e que nada têm que ver directamente com o assunto?
Também não me refiro a crispações simpáticas com à que tive com o Manel, até porque estamos muito perto da mesma posição.
Mistérios do humano...
Como já disse, a mim interpela-me muito este fenómeno da "transversalidade e fracturação temática" ou lá como lhe quiserem chamar...
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