Razöes do Näo

No próximo referendo sobre o aborto votaremos Näo. Aqui se tenta explicar porquê.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Vanda 2, serena

No que me concerne, através dos meus olhos de cinza que de longe contemplam a falsa luz do dia reprimido, é edificante ver os que socialmente se pretendem representar como eunucos, machos castrados, fecharem-se no seu ressentimento para produzir enunciados sobre o preservativo ou as gravidezes.

O eunuco reprimido, na sua retracção maligna, apenas concebe o feminino sob dois prismas : a puta ou a virgem. Não se pense, por contaminação das técnicas de propaganda inauguradas pelo Concílio Vaticano II, que tal prisma foi recolocado nalguma benignidade revitalizadora. Basta ler os hediondos textos de João Paulo II sobre o assunto, para perceber-se que a maquilhagem e linguagem dúbia do sedutor desvitalizado apenas se modernizou. É aliás para isso que têm servido os concílios, e pouco mais.

Quão raro é o eunuco libertado, que não se castrou mas se espiritualizou. E esse, não o encontrareis na luz do vosso espectáculo público, a luz dele é outra, entrevista na lâmina que nos separa do divino e a ele nos une.

O eunuco reprimido, na sua linguagem falsa, usa agora essa brilhante contradição denominada « princípio de vida ». Não lhe passa pelo entendimento, dado o ajavardamento em que este se encontra na sua retorcida mente, que a vida enquanto tal é aquilo que é refractário a qualquer conceptualização, de que a palavra « princípio » é base. Também não lhe passa pela cabeça, ou pelo menos pelo discurso, que a vida é tudo o que há neste mundo e nos outros, e que invocar um suposto princípio desta é absoluta indistinção. Os seus dislates não passam duma afronta terrível e alienada à própria vida, e à morte que a coroa a partir de dentro. Contrapor a morte à vida, e afirmar-se como a favor de uma em detrimento de outra – é mutilação da própria vida, ou melhor, da consciência que cada qual pode ir desenvolvendo acerca de si enquanto ser vivo. Para a morte, pois claro, e a ressurreição, como sabeis ou devieis saber, não a anula, antes a implica, e o resto são cantigas de maus berços.

Mas os olhos da fénix muito revelam. Esta sofísitica não trata de afirmar lucidez alguma, mas por contraposição ilegítima instaurar a mentira que os que não acompanham tal posição ideológica, serão avatares da morte. Infeliz ou felizmente, o patinanço é tal, que a noção errada da vida que orienta o eunuco frustrado mostra em todo o seu esplendor o próprio ódio que ele tem aos vivos que pretende desvitalizar.

O que está aqui verdadeiramente em jogo, é o fito explícito ou inexplícito de dominação ideológica e política, em que as igrejas cristãs já foram mestras e soberanas, e onde agora, para bem ou mal dos vossos pecados, andam a patinar como mamíferos em Marte.

O que vale, é que é o eunuco frustrado ele mesmo, que trabalha para o seu próprio fracasso, quiçá por inconsciente desejo de se curar espiritualmente. Ou então, talvez seja o próprio deus a obrar para salvá-lo.

11 Comments:

Blogger Vítor Mácula said...

Vanda, querida, a tua má fé enternece-me… Os concílios, não negando que também tiveram mais ou menos pontualmente a acividade ou efeitos que enuncias, serviram sobretudo para manter o paradoxo inteiramente humano / inteiramente divino da pessoa de Jesus. Mas claro, isso só interessa a um (ou uma ;) cristã(o). Beijos, furiosa serena.

3:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não percebi nada. Tantas voltas para dizer exactamente o quê? Peço desculpa por achar confuso ou então a complicação é minha.

11:07 da tarde  
Blogger BLUESMILE said...

Querida Vanda:
Um beijo pelo teu texto.
Assino por baixo na íntegra.

E acho que JC também o faria.

Sim, aquele mesmo que amava as prostitutas e adúlteras e que impediu uma mulher adúltera de ser lapidada. ( Um activista antidescriminalização do crime mais hediondo para os judeus?)

4:52 da manhã  
Blogger T. said...

Querida Vanda,

Como talvez saibas, reunimo-nos, os católicos, pelo menos uma vez todas as semanas, senão mais, para celebrar o amor do nosso Deus por nós unindo-nos corporalmente a Ele. Como saberás, para nós Cristo é o Noivo da Igreja, daí tomarmos o Corpo dele dentro de nós, para que sejamos fecundos. Outros cristãos, de outras denominações, são menos radicais nesta corporeidade, mas nós acreditamos que o que recebemos é o Corpo de Cristo, literal, dentro de nós. Para que nos tornemos um com Ele, sem perdermos a nossa identidade. Como no sexo, Vanda. E para que, no tempo oportuno, sejamos fecundos. Como no sexo, Vanda. Daí afirmarmos, os padres, os teólogos, mas também eu e muitos outros, que a união corporal de dois diferentes, homem e mulher, num só, é um grande mistério de grande beleza, e uma das melhores metáforas e símbolos do amor de um Deus que não nos ama ao longe, intelectualmente, platonicamente, mas nos ama com carne, com sangue, com suor, com corpo, com tudo. Daí nos parecer que, idealmente, a união das carnes será entre dois que são fiéis, que assumiram um compromisso inabalável um pelo outro, que se entregam sem reservas. Porque desejamos que a entrega seja a 100 e não a 50 ou a 20%.Porque desejamos "viver abundantemente" e não de umas migalhinhas. Porque sabes tão bem como eu que dar uma queca nem sempre é fazer amor, unir o corpo nem sempre é unir a alma. E sabes que quando unes apenas o corpo, quando dás uma queca sem fazer amor, falta algo. E não basta ser casado, monogâmico, e fazer o planeamento da forma que manda a Santa Madre Igreja e não de outra. Isso, permita-se-me, é o exterior, e de nada serve o exterior limpo se o interior estiver podre. A ideia, o que pede a Igreja, esses que abdicaram da união corporal mas também os que como eu não abdicaram dela, é que a união seja feita sem reservas. Que dois se tornem um. Por fora e por dentro, por todos os foras e por todos os dentros. O que queremos é que todas as quecas sejam fazer amor, que todos os parceiros sexuais sejam amantes totalmente entregues um ao outro. Que nos unamos de forma o mais semelhante possível à forma como Deus se une a nós. É radical e extremo, e podes dizer que é um ideal ao qual não se chega. Sim. Mas o Cristo não veio propor menos que o ideal. Ele disse: "Não basta não matar. É preciso que nem sequer desejes o mal a ninguém". O que fazemos nunca basta. O que não é nenhuma desgraça, porque significa que podemos ser sempre melhores, que devemos ser sempre melhores. Podemos sempre amar mais, amar melhor. Que o saber que nunca amamos que chegue não nos faça ficarmo-nos pelo mínimo, mas antes apontarmos para o máximo.

E claro que a morte não elimina, para nós, a Vida com letra grande. Apenas o fechar-se à graça de Deus, ao Amor e Perdão gratuito de Deus, disponível para todos nós, pecadores, é que elimina a Vida. Estejamos deste lado ou do outro. Posso estar aqui a escrever-te e estar morta, se recuso o Amor e o Perdão. Mas isso não impede que se eu te desse um tiro e te matasse, tirando-te a vida com letra pequena, que não a outra, eu tivesse cometido um acto horrível que se tem de questionar. E até pode ser que eu tivesse circunstâncias atenuantes (sei lá, imagina que tinha sido em legítima defesa, perdoa o pensamento) que me ilibassem totalmente, mas não é por conta da excepção que se faz a lei. A lei humana, que a Lei de Deus é Lei daquele que tudo conhece, e que ama, donde é de natureza bem diversa.

Agora uma coisa é a nossa moral sexual (nossa de parte dos católicos) e outra coisa diferente é a moral relativa a embriões humanos. No contexto em que estamos, deste referendo, não vem ao caso a moral sexual. Ninguém quer legislar agora sobre sexualidade. Para nós, depois de feito o embrião, seja qual for a sequência de acontecimentos que levou até ele, o embrião tem identidade humana. Uns de nós, porque acreditam que é já ser humano completo. Outros porque acreditam que, mesmo sendo apenas potencial, é já potencial que não depende de acção externa para se desenvolver. É já entidade bem diferente de um espermatozóide e de um óvulo, que não são potencial ser humano a não ser que haja acção externa que leve à fecundação. E, como tal, acreditamos que merece protecção judicial tal como eu e tu. Do mesmo modo que acreditamos que um homem que dê um pontapé numa mulher grávida e lhe cause a perda do feto deve ser responsabilizado por tal. E que essa perda é a perda de um ser humano.

Podes discordar da nossa posição a respeito da humanidade de um embrião. Mas compreende que se acreditamos que o embrião é ser humano, faz sentido que achemos que provocar a morte do embrião seja crime. Não por querermos dominar ninguém, simplesmente não queremos que matar um embrião seja coisa permitida na lei.

9:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sem filosofias, minha querida...sente...

12:19 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Bom dia, bom dia.

O problema, Vanda, é que foder não é porventura como outra forma de contacto, tais como as que referes… falar, dançar… E embora seja muito árduo definir conteúdos de acção e sentido a partir das suas definições genéricas (há inúmeras fodas, conversas, danças…) pode-se sempre aduzir algumas considerações genéricas, desde que de tal afastamento do real tenhamos consciência… Passa-se que foder, mesmo num flirt ou numa orgia, carrega sempre consciente ou inconscientemente cargas sentimentais, culturais, genéticas, instintivas, dum modo mais intenso do que falar ou dançar… Por isso o ciúme é mais intenso quando se trata de sexo do que quando se trata de dança ou conversa (‘tá bem, há uns e umas quantos e quantas que… ;) Há uma intimidade orgânica no acto sexual, que se pode querer apenas doar numa relação correspondente, isto é, que tenda à mesma intimidade nos outros planos do humano. Vais-me dizer que nada disto tem que ver com leis dum estado laico, e tens razão… Mas já tem que ver com o entendimento da poética (lembras-te da etimologia, poiesis ?... :P) do amor e do sexo no cristianismo. Ou seja, ao contrário do que a tua brilhante lábia quer fazer crer, ela é pensável fora do patriarquismo, de igual para igual, e até homossexualmente (a questão da não aceitação da homossexualidade nalgum cristianismo funda-se na discutível impossibilidade de exclusão da fecundidade biológica, e não na monogamia sexual).

Passa-se que se não te dispões a contemplar a macacada da trindade, a noção de amor cristão te escapará, se não no seu todo, pelo menos no seu fundamento.

Quanto à experiência estética, não percebo muito bem o exemplo… Ela é sempre pessoal e solitária no seu primeiro momento (não temos experiências estéticas com os artistas, mas connosco próprios através da obra, e isto mesmo para o teatro.) E mesmo nos planos em que não o é, muitas mediações há entre o proporcionador da experiência (l’ artiste) e aquele que a vive (re)criando-a. Não sei… até porque há uma intimidade de si para si aqui que está mais perto da experiência religiosa do que uma queca sem « I will love you forever »… :P

Bjocas, ó interpeladora

3:11 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

E já agora, desculpa lá, dado o tema do blog: queres dizer que não faz sentido a proibição do aborto senão acarretando uma série de proibições no comportamento sexual?...

3:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vanda,
A visão cristã da sexualidade que a Tânia descreveu cristalinamente e com um louvável esforço de aproximação de linguagem, tem subjacente uma fé que é a chave necessária para o seu entendimento. Não me admira, por isso, que a não compreenda.
Agora: permita-me que também eu não compreenda todo o rancor que transpira nos textos que lhe li.

Tânia,
As suas palavras nunca seriam as minhas porque me falta a arte. Mas a substância que revelam, essa, faço-a também minha se me permite. Muito obrigado por ser quem é.

2:04 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Vanda,
Quem pensa, escreve ou diz apenas com intuito construtivo, sabe fazê-lo serenamente, sem agressões (no conteúdo, não na forma). Ora, a Vanda não faz. Por isso mesmo fico com a impressão de que há por detrás alguma coisa "corrosiva", que pode nem ser rancor - mas alguma coisa.
Digo isto fraternalmente, sem qualquer outro intuito, garanto.
Rui

12:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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1:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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11:00 da manhã  

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