Razöes do Näo

No próximo referendo sobre o aborto votaremos Näo. Aqui se tenta explicar porquê.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Causa equivocada

Valores como a solidariedade, justiça social, fraternidade, igualdade, defesa dos mais fracos, a equitativa distribuição dos bens, etc... fazem parte do ideário reclamado por qualquer pessoa de esquerda (o que não impede, naturalmente, de serem sentidos como seus por qualquer pessoa que se coloque a si mesmo a etiqueta de "direita"...).
Este "universo ideológico" tem um sentido global evidente: a construção da sociedade em que o bem do indivíduo se busca e se afirma na consecução da comunidade, do bem comum. Traz nos genes, portanto, as ideias de generosidade e de abertura ao outro.
O aborto não cabe aqui.
Custa ver as elites políticas da esquerda transformadas em ponta de lança do mais feroz individualismo.
Porque é disso que se trata. Se levantarmos os olhos do umbigo, facilmente veremos em que "onda cultural" se enquadra esta batalha: na sobrevalorização do indivíduo, em que o "eu" é o centro do universo. Aqui se entendem chavões propangandísticos como o famoso "Na minha barriga mando eu". Isto é o contrário de "esquerda". Esta é uma causa equivocada.
Como a política "progressista" se faz de pequeninas batalhas em que o único factor que parece importar é esticar a corda para ser "fracturante" e, portanto, de esquerda, estão, neste tema específico, a esticar a corda para o lado errado.
Considero-me uma pessoa de esquerda, mas as minhas ideias não dependem do partido em que voto, mas da sociedade com que sonho. E nessa utópica civilização, para que oriento a minha cidadania, o aborto é um erro grave que urge evitar e não liberalizar.

17 Comments:

Blogger José Brito,sj said...

actualmente não me defino em termos de posicionamento político. mas parece-me oportuna, muito oportuna mesmo, a observação deste texto.
julgo mesmo que atrás de parte da argumentação do sim se escondem, em alguns casos, sintomas de individualismo proprio de uma certa desregulação da economia de mercado.
é de facto uma coisa que já há muito tempo me surpreende ver pessoas supostamente defensoras de uma atitude solidária, defenderem ideais que contribuem para a cosntrução de uma sociedade fragmentada, em que se quebram laços comuns de unidade.

2:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ao abordarmos a questão do “aborto” de forma redentora, demagógica e simplista… tornamo-nos permissivos aos ecos de filosofias autistas de índole duvidosa.
Na minha modesta opinião e fazendo uso de algum racionalismo, a questão do “aborto” será eterna e inultrapassável… (concordemos com “ele” ou não)
[…parafraseando: nunca, jamais, em tempo algum, será extinta a prática da “interrupção voluntária da gravidez”… (seja em salas clandestinas, vãos de escada ou em clínicas espanholas) …]
Num País em que a lei penaliza o “aborto” e mesmo assim contabilizam-se cerca de 15.000 casos anuais, insistir na questão entre vida/morte… será ignorar a verdade e considerar a sua supressão uma virtude.
Conscientes de que independentemente do resultado, o “aborto” continuará a ser uma realidade, deveremos então decidir se as “Mulheres” portuguesas são merecedoras de alguma dignidade ou se deverão continuar a ser… filhas de um “Deus” menor.

11:05 da tarde  
Blogger Manuel said...

Caro demo,

À minha suposta visäo "redentora, demagógica e simplista" pareces tu propôr uma abordagem pragmática do problema: como näo conseguimos extinguir a prática de um erro, regularizemo-lo, em nome da dignidade da mulher.
Acontece que, meu caro demo, em minha opiniäo (e aceito que valha tanto como a tua), a dignidade da mulher, neste caso, näo é mais digna que a do nascituro. Logo, a soluçäo nunca poderá passar pelo aborto.
Há aqui um conflito de valores? Pois há.
O aborto é a opçäo pela eliminaçäo de uma das partes.
Deixar que a criança nasça pode acarretar problemas, mas näo implica a eliminaçäo de ninguém. Parece-me, portanto, humanamente mais equilibrada. E por muitas voltas que lhe dêmos, a questäo passa por aqui.

11:35 da tarde  
Blogger fernando alves said...

A questão da dignidade abordada pelo Demo tem muito que se lhe diga. Uma mulher teria muito mais dignidade se lhe dessem todas as condições físicas e emocionais para poder ter o seu filho. Abortar com boas condições não lhe dará mais dignidade do que abortar em más condições.

2:08 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

è uma opinião masculina.

9:19 da manhã  
Blogger Demo said...

Caro Manuel

Com o devido respeito pela sua opinião penso que esta questão deverá antes do mais ser desmistificada…evitando assim erros de interpretação ou “tradução”. Tendo em conta que desmistificar não será propriamente atribuir responsabilidades, deveremos encarar a questão com frontalidade e desprovidos de falsos pudores ou mais do que isso… libertos de uma qualquer “inocente” influência néscia… em nome da “Razão”

Permita-me fazer notar que em caso algum escrevi ou disse que considerava o “aborto” uma virtude, ou manifestei a minha concordância com tal prática… simplesmente concedo o beneficio da dúvida a quem a “ele” recorre (convicto da dor da decisão).
Quanto á questão em si, e perante a inviabilidade de consensos neste problema social [… e face á impossibilidade de “extinção da prática”…] deveremos ser racionalistas e ignorando os discursos retóricos em nome da objectividade… evitar falsas crenças de que o referendo irá acabar com o “aborto”… o que será utópico e puro folclore.

Insistir em rodear o problema propalando os “ses”, será por defeito desinformar ou um erro de interpretação. Incitar ao fundamentalismo será negar direitos, dignidade e igualdade…Induzir em erro será contraproducente… (ninguém o fará por prazer) …

E deveremos ter sempre presente que a fé jamais poderá á força impor-se á razão, devendo ser esta a imperar.

12:07 da tarde  
Blogger Administrador said...

Visita a Senhora do Sorriso e Partilha com Ela todas as Graças que nos concede em "Só Deus Basta"

Um abraço em Cristo

12:12 da tarde  
Blogger joaquim said...

O número de abortos realizados clandestinamente será, pelos, vistos, uma razão para a despenalização.
E os cheques sem cobertura, e os roubos de quem tem fome, etc, etc, são em muito maior número e também são uma realidade. Justificarão a sua despenalização?
Já sei que é uma pergunta demagógica e outros mimos, mas por amor de Deus, o número de coisas erradas repetidas não pode servir para que essas coisas deixem de ser erradas e passem a ser permitidas.
Uma mentira muitas vezes repetida não passa a ser verdade, embora alguns na história o tenham tentado.
Abraço em Cristo

12:40 da tarde  
Blogger Manuel said...

Demo,

Parece insistir em falar como se a minha posiçäo fosse determinada por razöes religiosas. Näo é.

Näo percebo que "misticismo" possa ver na minha opiniäo, carecida de "desmistificaçäo".

A minha posiçäo baseia-se na ideia simples e singela que a vida humana merece protecçäo desde a concepçäo. Como ainda näo vi dados científicos que me provem que estou errado,no que se refere ao facto de, a partir desse momento, ter início um processo ininterrupto que só terminará na morte natural, parece-me uma posiçäo bastante "racional".
Que näo concorde comigo é outra questäo. Mas, por favor, näo desvalorize o que digo como se fossem superstiçöes. Näo säo.

12:55 da tarde  
Blogger Pedro Leal said...

Joaquim

É isso.

2:00 da tarde  
Blogger Demo said...

Manuel

Este esgrimir de posições terá sido consequência de um equívoco “ingénuo”, provocado pela intenção argumentativa do “texto”, minimizado agora num manifesto de ideais. Apenas isso, nada mais… desmistificar terá a ver com as razões da “razão”.

Traduzindo por miúdos a sua “declaração de intenções”, resta o vazio… tudo se resume a uma posição de crime/criminoso… ponto final parágrafo.
[“Abortar” é pôr fim ao ciclo de vida de um futuro “ser”…correcto. É contra a lei…certo. Deverá ser judicialmente penalizado…óbvio.] …Elucidativo, literalmente…

Resumir-se-á a questão do “aborto” apenas a isto?...
Se assim é, surpreendeu-me… pela negativa, mas não deixou de surpreender… não só pela sua atitude autista, mas também por descriminar e ignorar os ideais alheios…
Também tenho consciência de que a “interrupção voluntária da gravidez” não será a melhor opção… mas respeito a consciência dos outros, porque acredito que a decisão não terá sido tomada de ânimo leve… terá sido certamente, dolorosamente ponderada.

Acreditar que uma mulher engravida pelo prazer de cometer um crime, será privilegiar a ignorância…

10:07 da tarde  
Blogger Demo said...

Joaquim

Só por mera distracção ou intencionalidade duvidosa, poderá ter este tipo de discurso ou entrar neste tipo de termos comparativos… a menos que seja perceptível, alguma convicção de infalibilidade. […o “dogma” da infalibilidade é apenas isso mesmo, um “dogma”, mas da exclusividade do Papa…]
Excluindo a banalidade da violência verbal, será que ainda não percebeu que independentemente do resultado, os dados estatísticos continuarão em alta… com tendência para subir…
Como você diz e muito bem, … uma mentira muitas vezes repetida, não passa a ser verdade… convencer-se de que alguma coisa será alterada, será utópico.

10:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

http://timoteoshel.blogspot.com/

em particular

http://timoteoshel.blogspot.com/2006/10/burguesia-o-contrrio-da-religio.html

camilo

12:57 da tarde  
Blogger Manuel said...

Caro demo,

Näo tente resumir e tirar conclusöes das minhas palavras que näo estäo lá.ç
E da minha "declaraçäo de intençöes", como lhe chama, näo resta o vazio: resta uma posiçäo muito clara, com fundamentos sólidos que, admito, näo é partilhada por outros.
Além disso, o texto postado pretendia apenas dar início a uma reflexäo sobre o que, para mim, mais uma vez, säo contradiçöes de fundo neste debate.

1:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A partidarização do debate?

5:39 da manhã  
Blogger joaquim said...

"banalidade da violência verbal"???

[…o “dogma” da infalibilidade é apenas isso mesmo, um “dogma”, mas da exclusividade do Papa…]???

não percebeu que independentemente do resultado, os dados estatísticos continuarão em alta… com tendência para subir… ???

Sem mais comentários.

12:00 da tarde  
Blogger BLUESMILE said...

Não é forçoso que assim seja.
Há países europeus onde sucedeu o contrário - ou seja, a despenalzação do aborto reduziu para metade o número total de abortos. Como na catolicíssima Itália.

11:11 da tarde  

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