Abstençäo
Há quem defenda a abstenção como a posição mais razoável perante o próximo referendo.
É uma opção respeitável.
Mas a abstenção pode ser entendida de muitas maneiras.
Pode significar um simples desinteresse pela questão referendada. Ou, näo sendo mulher em idade fértil, entender-se alheio a ela. Cabem aqui todos os que entendem não dever opinar sobre matéria que lhes não toca directamente.
Abster-se pode pretender dizer que o aborto deve ser tratado como um tema de consciência e que a consciência não é referendável. Aqui se incluem, entre outros, todos aqueles que entendem não ter o Estado competência para legislar sobre problemas da esfera privada.
Pode também significar que, perante a complexidade do tema, se têm legítimas e profundas dúvidas, preferindo não condicionar terceiros em matéria que o próprio não tem clara.
A abstenção pode ser entendida, também, como uma radical discordância em relação ao funcionamento e/ou representatividade do próprio sistema democrático.
Abster-se pode ser, além de tudo o mais, uma desculpa para, como se dizia ali mais em baixo, não "sujar as mãos", num tema que faz aflorar à luz social profundas divisões nascidas de cosmovisões enfrentadas.
A abstenção pode significar tudo isto e muito mais.
Seja qual for o sentido que cada pessoa que pensa abster-se queira dar a esse seu acto, há uma consequência inequívoca: na actual conjuntura social e política, isso significa colocar nas mãos dos que votam a possibilidade de a todos condicionar.
É uma opção respeitável.
Mas a abstenção pode ser entendida de muitas maneiras.
Pode significar um simples desinteresse pela questão referendada. Ou, näo sendo mulher em idade fértil, entender-se alheio a ela. Cabem aqui todos os que entendem não dever opinar sobre matéria que lhes não toca directamente.
Abster-se pode pretender dizer que o aborto deve ser tratado como um tema de consciência e que a consciência não é referendável. Aqui se incluem, entre outros, todos aqueles que entendem não ter o Estado competência para legislar sobre problemas da esfera privada.
Pode também significar que, perante a complexidade do tema, se têm legítimas e profundas dúvidas, preferindo não condicionar terceiros em matéria que o próprio não tem clara.
A abstenção pode ser entendida, também, como uma radical discordância em relação ao funcionamento e/ou representatividade do próprio sistema democrático.
Abster-se pode ser, além de tudo o mais, uma desculpa para, como se dizia ali mais em baixo, não "sujar as mãos", num tema que faz aflorar à luz social profundas divisões nascidas de cosmovisões enfrentadas.
A abstenção pode significar tudo isto e muito mais.
Seja qual for o sentido que cada pessoa que pensa abster-se queira dar a esse seu acto, há uma consequência inequívoca: na actual conjuntura social e política, isso significa colocar nas mãos dos que votam a possibilidade de a todos condicionar.
17 Comments:
Olá, Manel.
Que raio… então… querem obrigar a malta a comentar… que raio de obsessão é esta agora com a abstenção?… Já parecem o Jorge Sampaio, caraças… ;)
Não direi mais nada acerca da abstenção, que por frontalidade assumi e dela também falei em comentários ao post “Irra 2” do David, que está mesmo aqui em baixo. Até porque não a defendo como mais ou menos razoável, e muito menos como mais ou menos razoável para outros que não eu. Aliás, o que é isso da quantificação da razoabilidade?... As coisas ou são razoáveis ou não são… Isto dos meios buracos da razoabilidade é discutível, mas seja como for, eu até penso que ambas as hipóteses de voto (sim, não, nada) são razoáveis. Dizer que os outros são irrazoáveis (ou menos razoáveis) seja qual for a posição do próprio e as contrárias, parece-me um pouco desconversar, to say the least :P
Faço notar também que o último parágrafo é um pouco “perigoso” :P Eu cá gosto disso, mostra as contradições do próprio problema. Talvez haja uma hipótese de pensamento e acção que ainda ninguém… ;)
Abraço.
Vitor,
Näo escrevi o post a pensar em ti, apesar de conhecer a tua posiçäo... :)
E comecei por dizer que a abstençäo é uma opçäo respeitável.
Limitei-me a tentar dizer que, na minha opiniäo (que é SÓ isso mesmo), é melhor tomar posiçäo que näo tomar posiçäo nenhuma. E repara que me referi à abstençäo. Propositadamente, näo fiz qualquer referência a outras opçöes, como o voto em branco, por exemplo...
Pois é... o nada tem duas possibilidades de expressão... desculpa lá, Saramago ;)
Eu sei - ou supûs - que não fosse directamente para mim... Mas sendo contribuidor do blog e tendo-a assumido, seria para mim um pouco estranho se não a comentasse... A alhada é minha, não tua nem de outro contribuidor... ;)
"Seja qual for o sentido que cada pessoa que pensa abster-se queira dar a esse seu acto, há uma consequência inequívoca: na actual conjuntura social e política, isso significa colocar nas mãos dos que votam a possibilidade de a todos condicionar."
Como aconteceu no referendo anterior...
Eu cá acho que as abstenções são na sua maioria de pessoas que a votar votaria não, porque o sim é muito mais comprometedor pois todos desconfiam do que na realidade está por trás da despenalizaçao ( a liberalização sem limites ) e no fundo ninguém concorda com a morte dos que se encontram no início daquilo que é já vida humana. Mas abstêem-se ou não votam. Porque os principais responsáveis pelo governo querem realmente que o sim ganhe por ser para eles mais fácil e até vantajoso; por isso que se abstem acha que se o não ganhar esses tais vão fazer tudo, ou seja, nada, para que a mudança ocorra . Mas mesmo assim a meu ver, o não tem que ganhar mais esta e tem que haver urgentemente um movimento que tome a iniciativa de implementar fortes e implacáveis medidas para essa mudança que é tão necessária.
Era de começar desde já a projectarr isso e também envolver os principais responsáveis pelas decisões para tomarem decisões efectivas, práticas e viáveis, porque para isso é que lá estão.
Despenalizar/liberalizar é uma solução tão fácil para estes que se querem desenvencilhar de um problema tão complexo.
alice
"Eu cá acho que as abstenções são na sua maioria de pessoas que a votar votaria não"
Acho que é falta de cultura democrática tirar essa ilacção da
intenção de votos e dos números da abstenção.
È tão válida como o seu contrário.
Pessoalmente conheço imensas pessoas que não foram votar no último referendo porque estavam convencidas que o SIM ganharia.
Não vão cometer o mesmo erro desta vez.
Pessoalmente também são inúmeras as pessoas que conheço que a votar, votaria não porque:
« o sim é muito mais comprometedor pois todos desconfiam do que na realidade está por trás da despenalizaçao ( a liberalização sem limites ) e no fundo ninguém concorda com a morte dos que se encontram no início daquilo que é já vida humana. Mas abstêem-se ou não votam. Porque os principais responsáveis pelo governo querem realmente que o sim ganhe por ser para eles mais fácil e até vantajoso; por isso que se abstem acha que se o não ganhar esses tais vão fazer tudo, ou seja, nada, para que a mudança ocorra . Mas mesmo assim a meu ver, o não tem que ganhar mais esta e tem que haver urgentemente um movimento que tome a iniciativa de implementar fortes e implacáveis medidas para essa mudança que é tão necessária.
Era de começar desde já a projectarr isso e também envolver os principais responsáveis pelas decisões para tomarem decisões efectivas, práticas e viáveis, porque para isso é que lá estão.
Despenalizar/liberalizar é uma solução tão fácil para estes que se querem desenvencilhar de um problema tão complexo. »
al.
A abstenção não leva a lado nenhum. Da última vez, levou-nos a um novo referendo.
Como já ouvi alguém dizer, anda-se à busca do "sim" à força toda.
Votem. Pelo menos tira-se a dúvida do que os portugueses realmente querem.
Beijos em Cristo
Cara amiga: sentía la falta de tus palabras. Siempre es importante lo que dices. Entiendo, no obstante, las razones de tu ausencia.
Con respecto al referendum sobre el aborto, de entrada, disiento. Me parece que no es cuestión de mayorías.
Puesto el referendum, cualquier postura es válida, aunque sea equivocada. Abierta la caja de Pandora es muy difícl recoger la difusión del mal.
Acoger la vida, formarse, comprender el drama del aborto. acompañar a quien lo sufre... ese es el camino.
Un fortísimo abrazo.
PERDÓN POR EL ERROR INVOLUNTARIO.
CARO MANUEL, NO CARA AMIGA.
Incluo-me na segunda categoria: o estado não deve legislar sobre a esfera privada. Agora reconheça que a vitória do não representa o pior dos cenários para quem defende esta posição. Com o "sim" vencedor todos podem continuar a dizer "não" (médicos e mulheres). O contrário não é verdade. Apesar de tudo se fosse obrigado a votar, seria "não". No entanto é a minha opinião, não a quero impôr (nem a vejo com algum tipo de superioridade moral)e fica salvaguardada mesmo que o sim ganhe (como espero).
Fugindo de esguelha ao tema da abstenção mas aproveitando este espaço, gostaria apenas recordar algo que todos sabemos mas que esquecemos frequentemente: que este referendo não pretende incidir sobre a questão ética do aborto, quero dizer, não se pretende dividir a população entre quem o considera uma prática correcta e quem a considera errada (a eterna dicotomia do bem e do mal), mas sim entre quem crê que esta prática deve continuar a ser punida legalmente ou não. Referenda-se a DESPENALIZAÇÃO do aborto.
A questão que nos devemos colocar é: independentemente da minha visão da prática do aborto -- influenciada pelas minhas crenças religiosas, o meu entorno cultural, o meu sentido de ética, a minha formação e até mesmo os meus "fantasmas" pessoais -- e consciente da situação actual -- o número de abortos ilegais que se levam a termo cada ano em Portugal, o impacto destes para a Saúde Pública, a percentagem alarmante de adolescentes grávidas em Portugal, a realidade social, económica e cultural do nosso país, etc. --, sou da opinião que se deve continuar a penalizar legalmente tanto a mulher que se sujeita a um aborto como o pessoal médico envolvido? Ou, pelo contrário, assumo que em todas as épocas se praticou o aborto, que continuará a praticar-se independentemente deste referendo e que, por vezes, é preciso saber escolher o mal menor, goste ou não?
Eu sou da opinião que se deve ensinar a pescar em vez de colocar uma cana de pesca nas mãos de criancinhas que, na maioria das vezes, não tiveram acesso à educação mais adequada.
E repito algo que já disse num comentário ao desabafo de /me: que os referendos, mais do que uma ferramenta democrática, servem para garantir a impunidade e a imagem do governo -- qual Pilatos em frente da multidão enfurecida.
Somos constante e permanentemente manipulados.
Caminante,
Por supuesto que no es una questión de mayorias. Pero si nos ponen la pregunta en un referendum... hay que contestar de acuerdo con lo que pensamos...
Caro anónimo,
A privacidade é a esfera onde o estado näo deve, por princípio, interferir.
Mas o que eu faço na minha privacidade só é privado quando näo ponha em causa liberdades e direitos de terceiros. Há muitas coisas que eu näo posso fazer, seja em privado ou näo...
Enoch!
Gosto de te ver por aqui.
Entendo o que dizes. E percebo perfeitamente que penses assim.
Mas o que está em causa näo é a simples "despenalizaçäo". Despenalizaçäo significa isentar de pena um ilícito, mantendo este a sua ilicitude. O que se propöe é mais do que isso. Trata-se de uma liberalizaçäo, que supöe aceitar uma prática como legal e passível de apoio estatal. É diferente, ou näo?
Surpreende-me sinceramente que quando está em questão a vida, se compreenda a posição da abstenção no próximo referendo ...
Grava bem a resposta de Jesus: "Mas como és morno, nem frio nem quente vou vomitar-te" Ap 3, 16
A Paz
Que raio… Mas ninguém interroga a tensão entre a ideia de « condicionamento da vontade » e o « não como resposta no referendo » ?... Olhem qu’ isto :P
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