Contradiçöes?
Uma curiosa onda de esquerdismo católico parece estar a varrer a América Latina. O último exemplo chega da Nicarágua, com a vitória do sandinista Daniel Ortega.
Lugar especial no debate político sul-americano, tem tido o tema do aborto, com a campanha a favor da vida feita bandeira pela esquerda mais agressiva. É, para já, um fenómeno que chama a atenção.
Através do Timshel, cheguei a esta pergunta de Tomás Vasques:
"Como reagirá a malta do PCP/BE a este contratempo? Assobia para o ar, como é hábito? E este pessoal todo: Blogue do Não, Pela Vida, Quero Viver, Razões do Não, Sou a Favor da Vida, Viver a Sua Vida, também assobia para o ar?"
Estando este blogue incluído na lista, acolhi a pergunta como merecedora de atenção e resposta.
Há nesta questão um irónico tom provocatório, como se de repente, uns e outros tivéssemos de nos sentir incómodos por esta aparente "salada ideológica" que mistura num só prato o que nós parece servirmos por separado.
Sem querer explicar complexidades que não tenho a pretensão de dominar, limito-me a uma opinião que emerge do meu pouco saber.
Antes de mais, parece-me necessário evitar comparações entre realidades políticas com um percurso histórico muito diferente. Há muitas "esquerdas", como há muitas "direitas".
Relacionado com o anterior, não posso deixar de me interrogar sobre a influência da Teologia da Libertação na evolução da esquerda latino-americana.
E, sobretudo, os factos apontados como contraditórios, parecem-me confirmar o que já várias vezes tive oportunidade de escrever: o problema do aborto, a sua liberalização ou criminalização, ultrapassa largamente os limites das ideologias políticas, enraizando-se em convicções éticas, antropológicas, filosóficas e morais que antecedem e extravasam o conceito de pertença partidária. Os exemplos que chegam do outro lado do charco deitam por terra a colagem entre liberalizaçäo/esquerda e anti-aborto/direita. Provam apenas que há muitas alternativas às categorizaçöes que na Europa se apresentam como inevitáveis.
Por outro lado (ou no mesmo lado, conforme se veja), a pergunta supracitada supõe a categorização à direita dos defensores do "não", em Portugal. O que é falso, como todas as generalizações.
Dito isto, resta o óbvio: embora partilhe com muita gente alinhada com fundamentalismos de direita a minha orientação de voto no Não, isso não significa que os convide para jantar.
Lugar especial no debate político sul-americano, tem tido o tema do aborto, com a campanha a favor da vida feita bandeira pela esquerda mais agressiva. É, para já, um fenómeno que chama a atenção.
Através do Timshel, cheguei a esta pergunta de Tomás Vasques:
"Como reagirá a malta do PCP/BE a este contratempo? Assobia para o ar, como é hábito? E este pessoal todo: Blogue do Não, Pela Vida, Quero Viver, Razões do Não, Sou a Favor da Vida, Viver a Sua Vida, também assobia para o ar?"
Estando este blogue incluído na lista, acolhi a pergunta como merecedora de atenção e resposta.
Há nesta questão um irónico tom provocatório, como se de repente, uns e outros tivéssemos de nos sentir incómodos por esta aparente "salada ideológica" que mistura num só prato o que nós parece servirmos por separado.
Sem querer explicar complexidades que não tenho a pretensão de dominar, limito-me a uma opinião que emerge do meu pouco saber.
Antes de mais, parece-me necessário evitar comparações entre realidades políticas com um percurso histórico muito diferente. Há muitas "esquerdas", como há muitas "direitas".
Relacionado com o anterior, não posso deixar de me interrogar sobre a influência da Teologia da Libertação na evolução da esquerda latino-americana.
E, sobretudo, os factos apontados como contraditórios, parecem-me confirmar o que já várias vezes tive oportunidade de escrever: o problema do aborto, a sua liberalização ou criminalização, ultrapassa largamente os limites das ideologias políticas, enraizando-se em convicções éticas, antropológicas, filosóficas e morais que antecedem e extravasam o conceito de pertença partidária. Os exemplos que chegam do outro lado do charco deitam por terra a colagem entre liberalizaçäo/esquerda e anti-aborto/direita. Provam apenas que há muitas alternativas às categorizaçöes que na Europa se apresentam como inevitáveis.
Por outro lado (ou no mesmo lado, conforme se veja), a pergunta supracitada supõe a categorização à direita dos defensores do "não", em Portugal. O que é falso, como todas as generalizações.
Dito isto, resta o óbvio: embora partilhe com muita gente alinhada com fundamentalismos de direita a minha orientação de voto no Não, isso não significa que os convide para jantar.
8 Comments:
Manuel,
Concordo veemente contigo. Não percebo como é que ainda há a grande tentativa de dividir esta questão como se fosse resolvida sob um só ponto de vista. Voto não por uma questão de coerência com o valor primordial da Vida, seja ela encarada ao nível biológico, antropológico, politico, social e sim, religioso. Poderão dizer-me que a mulher tem direito à sua dignidade e à sua autonomia. Percebo, mas antes de mais será a autonomia ilimitada, quando o próprio ser humano é finito?
A meu ver, a autonomia cessa quando ponho em causa outra vida humana.
Claro que tem de haver uma legislação, mas não podemos apontar casos particulares para defender o caso geral, como tem acontecido. Cada caso é um caso é certo, mas tem sempre de ter uma base coerente para ser determinado o rsultado. E a base deve e têm de ser rígida, porque caso contrário, dá-se a banalização e caminhando para um "tudo é permitido".
A legislação nos campos da vida humana, e sem pretensões a profeta ou a futurista, se tomada com fins que não os do respeito pela mesma Vida, é uma pequena abertura de porta em que se conhece o inicio, mas desconhece-se o término.
Como sabemos, o fundamentalismo, seja para que lado for, leva à destruição.
Sim, a questão do aborto é transversal às ideologias políticas. Este e outro blogues são provas disso.
E tem o seu lado irónico ver Ortega ao lado dos evangélicos "fundamentalistas" (muito há a dizer sobre esta expressão...) do Texas e de costas voltadas para, por exemplo, o camarada Castro. Mas mais do que ironia, parece-me um bom sinal. Sinal de que a consciência individual se sobrepõe aos eventuais ditames ideológicos.
Faço minhas as tuas palavras, Manuel.
Até porque o jantar seria indigesto.
O que posso dizer sobre o Aborto, é pedir que não o façam, pois é o pior que uma mulher que quer ter um filho pode ouvir. Estou a escrever estas linhas com a lágrimas a cair sobre o teclado, uma vez que o meu maior desejo era ser MÂE. Mas a vida pregou-me uma partida, pois não consigo. Para mim é uma facada que me dão quando ouço noticias de abandono de crianças ou de abortos, pois o meu maior desejo é ser Mãe. Depois de muito lutar ao fim de 5 anos fiquei grávida nem queria acreditar quando me levantei e fiz o teste ao fim de 60 dias de atraso do período, uma amiga obrigou-me a fazer o teste pois eu nem acreditava, fiz o teste num domingo de manhã, quase que nem dormi com a ansiedade que sentia, deu positivo, foi o dia mais feliz da minha vida e do meu marido, choramos os dois agarrados sem parar, demos a notícia a toda a familia e fizeram uma grande festa.
Fiz a 1ª ecografia, tinha um presentimento que eram dois e eram os seus corações batiam com tanta força que era a mulher mais feliz do mundo. Tudo estava a correr bem até que aos três meses comecei a sentir muitas dores e o Dr. coloco-me de repouso absoluto, sem poder sair da cama, mas eis que no dia da Mãe no dia 5 de Maio de 2002 o pior aconteceu perdi os meus filhos, aquilo que mais desejei,e que ainda hoje sinto a sua falta, pois dia 5 de dezembro fariam 4 anos, foi doloroso ver os meus bébés já tão grandes e olhar para tudo o que tinha em casa para eles, foi uma revolta que ainda hoje sinto. À 3 meses atrás tentei novamente mas por ISCI(microinjecção)para a qual todos os dias tomei injeções de hormonas na barriga e fazia de 2 em 2 dias ecografias para ver como estavam os óvulos, mas o sonho em 15 dias estava a acontecer novamente, pois um teste de gravidez já dava positivo. Fui internada para me tirarem os óvulos através de anestecia geral para me tirarem os óvulos, quando acordei o médico disse-me que tinha oito óvulos e o meu marido já tinha dado o esperma. A seguir esperamos seis dias e eis que uma nova desilusão aconteceu o sonho voltou a morrer.
Pois os 5 embriões que estavam bem tinham deficiências profundas após os seis dias de biopsia.
Por isso digo Não ao Aborto
Se Deus quiser eu ainda hei-de ser Mâe. Pois esta dor está no meu coração nestes dez anos de tentativas.
Obrigado por me escutarem, pois tenho dias que me apetece morrer e fugir do mundo.
Deixo este excerto de noticia retirado da agência ZENIT:
Com uma declaração publicada pelo «Sunday Times» em 5 de novembro passado, o Real Colégio de Obstetras e Ginecologistas (RCOG) do Reino Unido anunciou ter solicitado «a possibilidade de matar os neonatos deficientes».
O Colégio enviou o documento de solicitação ao Conselho de Bioética Nuffield, organismo encarregado de examinar os assuntos éticos suscitados pelos novos desenvolvimentos da Biologia e da Medicina. O Conselho de Bioética Niffield é uma influente Comissão privada que está a ponto de publicar um informe sobre as decisões críticas em medicina fetal e neonatal.
No documento citado, o RCOG pede que se abra um debate sobre a eutanásia ativa das crianças deficientes (tirar-lhes a vida após o nascimento), sustentando que deste modo se impediria o peso emotivo e econômico do cuidado de um menino ou uma menina gravemente deficiente.
A associação de ginecologistas britânicos afirma que a permissão para realizar a eutanásia ativa limitaria o recurso ao aborto tardio porque, em caso de hipótese de uma grave deficiência do feto, os pais poderiam levar adiante a gravidez e decidir, só uma vez nascido, se se mantém a vida ou a suprime.
Querida anónima:
Como compreendo a sua dor e a sua luta!Ter um filho desejado é a maior alegria para um casal!
Infelizmente, não sei se sabe, mas as associações ditas pró-Vida acham que quem utiliza as técnicas de procriação medicamente assistida que a amiga está a usar, é uma vulgar "abortista" e assassina de crianças. Dizem assim, desta maneira, em privado.
Publicamente, alguns até dizem que as técnicas de PMA são um genocídio!!!
Porque certas técnicas de PMA implicam alguma manipulação de pré embriões.
É horrível não é?
Mas é verdade.
É a terrível incoerência de quem acha que a vida de um zigoto é um bem absoluto, mais precioso que a vida de uma possível criança que venha a nascer de técnicas de PMA.
Querem até fazer um referendo que proiba o nascimento de crianças por técnicas de PMA, ou seja, que proiba os tratamentos que a amiga tem feito nos últimos anos.
Só posso desejar-lhe uma coisa - que esse absurdo referendo contra a PMA nunca venha a realizar-se; que tenha acesso a todos os cuidados médicos de tratamento da sua infertilidade e que seja abençoada com uma ( ou mais!) crianças...
Abraços.
Queria agradecer as palavras que me que me enviou, pois neste momento para mim são aquilo que mais preciso, muito obrigado, pois assim consigo ter mais coragem para vencer este obstáculo na minha vida. Mas quero esclarecer que a primeira gravidez ocorreu normalmente. Só decidimos recorrer à PMA, depois de terem descoberto através do cariotico que havia tranlação dos cromossomas 4 e 20 do meu marido e que em 100%, teria 25% de ter uma criança saudável.
Hoje sinto-me com mais coragem, pois ter falado com alguém e receber uma resposta é uma ajuda muito grande para mim.
MUITO OBRIGADO!
RG
RG
Duas observações:
1. Existem na net muitos recursos sobre infertilidade. Destaco a A.P.I.
http://www.apinfertilidade.org/
Existem blogs de mulheres que vivem esse problema. Deixo dois links que têm links para muitos outros:
http://rodelasdeamor.blogspot.com/
http://oluardascamelias.blogspot.com/
2. Num caso como o seu deve estar atenta à questão do referendo da PMA. O novo projecto apresentado pelos proponentes, sem qualquer ligação com as perguntas e alterando a lei aprovada na AR, limita o uso da PMA à infertilidade. Se, no seu caso, a indicação para PMA não deriva de infertilidade e se o referendo da PMA ganhasse com o projecto apresentado, deixaria de poder recorrer legalmente à PMA em Portugal.
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