Razöes do Näo

No próximo referendo sobre o aborto votaremos Näo. Aqui se tenta explicar porquê.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Em jeito de carta aberta a Jerónimo de Sousa , no desejo de um diálogo construtivo.

29 de Janeiro de 2007

Assunto: Referendo do dia 11

Ex.mo Senhor,

Provavelmente achará estranho que lhe escreva estas linhas. Mas quando li uma notícia sobre uma intervenção sua a propósito do Aborto senti que devia fazê-lo.
V.exa disse que não faz sentido ser pelo não, defender a família e apoiar uma Lei Laboral que reduziu a licença de maternidade e o abono de família. Penso que tem razão. Já falei sobre isso, neste blog, de um modo genérico.


Mas penso também, como disse nessa altura, que a lei do aborto não ajuda as mulheres, sujeitas a essas e outras injustiças da referida Lei. Antes pelo contrário, fragiliza-as. Porquê? Uma mulher sujeita às leis laborais que V.exa crítica que queira continuar com a sua gravidez, fica numa situação muito mais delicada se o sim ganhar o referendo. A ideia do aborto como possibilidade será muito mais forte, mesmo para quem deseja profundamente evitá-lo. O aborto promovido pelo Estado, passa a ser um meio legalmente legitimado para evitar dramas como o despedimento.
Com esta lei o aborto deixará ser um drama motivado por uma realidade injusta, para ser uma solução enganosa dessa injustiça e uma forma de pactuar com ela, escondendo-a.

Na mesma intervenção, V. Exa disse achar estranho que os que defendem as ideias “avançadas” da Europa, em termos de liberalização económica, tenham dificuldade em aceitar as recomendações da mesma Europa para que sejamos mais avançados no que ao aborto diz respeito. O problema é que a lógica que está por de trás de tais supostos avanços é a mesma. A lógica do liberalismo sem regra e da liberalização do aborto aponta no mesmo caminho: a quebra de laços mínimos de solidariedade.


Não cometo a ousadia de lhe pedir que vote Não no dia 11, mas peço-lhe que reconheça que votar não, não significa menor sensibilidade ao drama da mulher do que votar sim.
Sabe, por vezes, as aparências iludem. Penso que ver no sim uma exigência da defesa da mulher é muito mais de que uma ilusão, é um engano.


Obrigado pela atenção.
Atentamente.
José Maria Brito


Notas para os leitores deste blog: perdoem-me a ausência tão longa... (vida de estudo, a quanto obrigas!). Tentarei escrever ainda antes de dia 11. Agradeço a vossa atenção.
Não foi possível link para a notícia do Público Última Hora sobre a intervenção de Jerónimo de Sousa.

3 Comments:

Blogger Manuel said...

O aspecto que referes, sobre a desprotecção da mulher no mundo laboral, caso ganhe o sim, parece-me digno de atenção e reflexão. A conquista de supostos "direitos" pode abrir a porta a pressões perversas. Gostaria de pensar que essa questão seria pensada e reflectida na própria lei laboral. Mas se nem quanto ao aborto sabem exactamente o que vão fazer se ganharem...

9:09 da tarde  
Blogger /me said...

Tenho de enviar uma caixa de chocolates ao Jerónimo de Sousa por ter motivado o regresso do Zé Maria Brito! :)

9:16 da tarde  
Blogger Ka said...

Caro Zé Maria,

É precisamente o que escreve que muitas pessoas nem sequer têm ideia.

Parece que não existe uma reflexão séria, para além do facto principal que é matar um ser humano, sobre quais as consequências do aborto livre.

Dou 3 pequenos exemplos para que possam reflectir

Expl 1 - Uma rapariga nova, de uma família de poucos recursos que fica grávida do namorado. Nem a família nem o namorado querem a criança. Com a liberalização do aborto esta rapariga estará sujeita a uma pressão enorme por parte do seu entorno. Pressão esta que poderá levar a ver o aborto como ÚNICA solução...e ela até quer ter o filho mas dizem-lhe "resolve lá o problema pois o aborto é legal"!

Expl 2 - Uma mulher cujo marido/companheiro não quer assumir a criança será muito mais pressionada por ele pois "o aborto até é legal" dirá ele.

Expl 3 - É o que já aqui foi referido. Não tenhamos dúvidas caros amigos, de que as entidades patronais pressionarão as mulheres se o aborto for liberalizado. Senão vejamos o que já acontece quando vamos a entrevistas de emprego. A mim já me aconteceu há uns anos, quando queria mudar de emprego, ter sido quase sempre questionada se queria ter filhos e vida familiar, como se isso fosse um impedimento á minha compatência profissional!!! Isto é realidade! Aconteceu-me a mim!

Com a liberalização do aborto todas estas mulheres estarão mais vulneráeis ás pressões da sociedade e muitas vezes em vez de vere3m da criança um caminho apenas verão um problema que terá como única solução o aborto!

11:33 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home