O que está em causa
As partes em confronto sobre o aborto concordam em muito poucas coisas. Isto deve-se a um conflito básico. Não é um conflito entre o justo e o injusto, o moral e o imoral, ou entre matar ou não matar, embora seja esta, demasiadas vezes, a forma simplista de apresentar o problema.
Trata-se, sobretudo de um conflito entre dois valores positivos: a vida e a liberdade. E repare-se que lhes chamei positivos, mas não absolutos. Nesta altura, olhemos para eles assim e tentemos perceber a sua importância na nossa vida e a forma como os pensamos. Não valem respostas óbvias...
Trata-se, sobretudo de um conflito entre dois valores positivos: a vida e a liberdade. E repare-se que lhes chamei positivos, mas não absolutos. Nesta altura, olhemos para eles assim e tentemos perceber a sua importância na nossa vida e a forma como os pensamos. Não valem respostas óbvias...
12 Comments:
Pões bem o problema.
Estão dois valores em confronto: a vida e a liberdade.
O que se pergunta é se a liberdade não acaba quando fica em risco a vida de um outro ser que virá a ser um hom ou uma mulher.
Eu sou pela vida.
Manuel já há algum tempo encontrei uma reflexão semelhante, muito interessante. "Nesse conflito de direitos, há que hierarquizar valores. O que vale mais, a liberdade ou a Vida?"
(in http://small-church.blogspot.com/)
Hadassah, o problema é que não há um conflito puro entre esses dois valores.
O ser (tento usar uma palavra neutra) que se aborta é um humano igual a nós (não vejo ninguém fazer funeral quando tem um aborto espontâneo após poucas semanas ou poucos meses... isso deverá querer dizer qualquer coisa).
Por outro lado, a liberdade da mulher é em dispôr (com limites; auto-mutilação ou suicídio não devem ser opções, por exemplo) do seu próprio corpo, não do ser que tem dentro de si.
Discutir a hierarquização dos valores não leva longe, porque os lados dos conflitos partem de pressupostos distintos.
Manuel, proponho-te que faças um post para ver onde podemos concordar...
- Será que podemos todos concordar que a pena de prisão não faz sentido? E se sim, que alternativa?
- Será que podemos todos concordar que há abortos que podiam ser evitados se o Estado ou a sociedade fizessem por isso? Não deveria ser essa uma prioridade?
- Será que podemos todos concordar que a partir de certa altura, o novo "ser" não pode ser posto e disposto como se de uma coisa se tratasse?
Para além disso, seria interessante colocares aqui o texto da lei actual. Seria útil saber afinal o que se está a pensar mudar.
Se seguires estas sugestões, estou certo que o saberás fazer de um modo mais adequado do que o que propus. ;)
Mais uma achega. Tentar reduzir esta discussão a este conflito de valores não vai dar (digo eu) porque há muito ruído. Há o escândalo causado por mulheres serem presas, por haver quem aborte por não ter condições económicas, etc. Para se poder discutir a questão a este nível, tem de se eliminar o ruído. Por isso, proponho, discutamos o ruído (que é muito sério). Depois, podemos atacar o problema mais a sério, com mais calma.
/me
fiquei confusa... para ti o "ser" que se aborta é ou não humano igual a nós?
É importante que esclareças...
Tnks
O /me piou bem:
Julgo que em torno dos três "Será que" dele é possível um largo consenso, que é tranversal à fronteira Sim/Não no referendo. E que a prioridade que ele indica no segundo "Será que" é, de facto, a prioridade racional.
Julgo que nós, os defensores do não, errámos a estratégia. Em vez de estarmos quietinhos, na defensiva, tentando adiar o mais possível o novo referendo, devíamos ter tomado a iniciativa de propôr:
i) a despenalização para as mulheres que abortam ( mas mantendo a criminalização e a penalização dos abortadores );
ii) medidas efectivas de protecção de grávidas em situação familiar e laboral difícil.
Tenho mesmo andado a pensar num esquema arrepiante, mas que permitiria salvar vidas: Propor que a candidata só pudesse abortar depois de rejeitar explicitamente uma proposta do Estado no sentido de aceitar levar a gravidez ao fim e entregar a criança para adopção. Se aceitasse, receberia uma certa quantia - eu bem disse que era arrepiante!
Há em Portugal cerca de 30 000 abortos por ano; se a quantia fosse de 1 000 euros, daria 30 milhões de euros, uma bagatela. Seria preciso criar uma Agência de adopção de urgência, que agilizasse o processo de adopção, garantindo que o bebé seria adoptado em, digamos, 3 meses. Haveria, assim, 30 000/4 = 7 500 bebés em stand by, custo que deve ser acrescentado.
Arrepiam-se de estar a ler isto?
Eu arrepio-me de saber que eles morrem.
A madre Teresa pedia pelas ruas de Calcutá às mulheres que iam às abortadeiras: "Não abortes - dá-mo".
E estou convencido que muitas mulheres que aceitassem e levassem a gravidez até ao fim, com o filho nos braços não mais quereriam dá-lo.
E eu não gosto de discutir este assunto, que faz-me sofrer.
ZR.
Quanto ao que o Manuel diz:
A liberdade é o bem mais precioso do homem - mais, muito mais que qualquer outro. E não estou a a falar daquela "liberdade" castrada e edulcorada que aparece em certo contextos, em que somos tanto mais livres quanto mais fazemos o que está certo. Não: é a liberdade "bruta", a liberdade de acertar e errar.
Mas para a liberdade há fronteiras, que não podem ser ultrapassadas: matar um ser humano é uma delas. E aqui não se trata de um ser humano adulto, que possa defender-se, morto "lealmente" num combate entre iguais ( aspas por razões óbvias, que sou contra a morte dos homens em todas as circunstâncias ). É um pequeno ser humano, indefeso e frágil, que chama por nós.
E não falo mais disto!
hadassah,
O sentido da minha participação vai no não ser propriamente relevante se é um ser igual a nós ou não. Parto do pressuposto de que é um ser (custa-me um pouco usar esta palavra, se alguém tiver uma melhor a propôr agradeço) que deve ser protegido. Estou totalmente de acordo com o ZR quanto à estratégia a seguir contra o aborto (que todos têm de concordar, acho eu, que deve ser evitado!).
A minha posição passa por encontrar os consensos possíveis.
Mas não vou fugir à tua pergunta (embora a considere irrelevante, no espírito da minha participação). Não considero esse "ser" igual a nós. Acho que quase ninguém (talvez apenas a mãe) o ache igual a nós; não vejo ninguém fazer funerais a abortos de poucas semanas, o que é sintomático. Mas considero que esse ser deve ser protegido.
Quanto à hierarquização de valores, acho que é ingénuo.
Não acredito que a maior parte das mulheres abortem em liberdade; são antes condicionadas a isso.
Logo, trata-se mais de um conflito entre a vida e o lavar de mãos desresponsabilizante da mesma sociedade (aqui o papel relevante deveria ser o do Estado).
Não se trata d eum conflito entre a liberdade das mulheres e a vida dos embriões.
Trata-se de um conflito entre a vida de um embrião e a vida de uma mulher.
E, quem puder, que decida.
Porque a questão é a de saber se se pode impor essa decisão a todas as mulheres. mediante uma sanção penal de prisão.
É isso que é questionado no referendo.
Boa tarde Bluesmile
terei oportunidade, muito em breve, de dizer o que penso sobre este assunto neste Blog.
Como tal, vou apenas explicar-te porque nao posso estar de acordo contigo na questao dos conflitos de valores.
1º Quando existe um conflito entre a vida da mae(risco de morte) e a vida do embriao, é permitido por lei terminar a gravidez para defender a vida da mae. É, aliäs, a unica situaçao em que o Codigo Deontologico dos Medicos o permite.
2º Poderäs entender que em determindas situaçoes que afectam a "qualidade de vida" da mae (psicológicas, sociais, económicas, etc., etc) se deveria liberalizar o aborto, mas nao me parece legitimo que se cofunda o valor de "qualidade de vida" com o valor da Vida Humana.
Esta confusao existe já em algumas correntes filosóficas e nao sera preciso fazer um grande esforço para entender como daqui podem advir consequencias graves.
A Liberalizaçao do Aborto e apenas uma delas.
Este Blog é muito interessante e esclarecedor!
Na minha opinião, e o que a ciência defende é:
“O desenvolvimento humano tem início na fertilização, cerca de 14 dias após o começo da última menstruação. Após a união dos gâmetas (espermatozóide e óvulo) e formação do zigoto inicia-se o processo de divisão celular, (…), a implantação do blastocisto no útero e desenvolvimento inicial do embrião.” Livro de Biologia 12º ano.
Logo, não faz qualquer sentido em diferenciar o embrião, feto ou ser com identidade própria, porque se trata de um processo continuo…que todos os seres humanos passam por ele, ao querer “anular” as 1ªs 10 semanas do desenvolvimento humano estamos a “anular” as primeiras 10 semanas de nós mesmos. Portanto interromper a gravidez ás 10 semanas na minha opinião é crime porque se está a matar um ser humano no seu início. Claro que existem excepções que estão contempladas na lei para se interromper a gravidez, também acredito que quem toma a decisão de interromper a gravidez (contemplada na lei), toma a decisão mais difícil da vida.
O que se pretende com a despenalização do aborto, é que o aborto passe a ser mais um meio de contracepção, tão simples como isto. Por agora quer-se até as 10 semanas, daqui por um tempo aumenta-se a fasquia e depois quem sabe (espero que não) o ser humano só é ser humano quando nasce.
Paulo
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